segunda-feira, 28 de setembro de 2009

07- Quem é Deus?

Encerramos o texto anterior afirmando que: “o homem, como ser pensante, tem na sua natureza a convicção sensata de que a existência da criação exige a existência de um criador.”

É uma questão epistemológica bastante complexa, pois a existência exige um princípio, ou seja, algo para existir dentro dos limites de nossa compreensão tem que ter um princípio determinado. O que não tem princípio não tem como existir. A Bíblia dos Cristãos e dos Judeus não se preocupou em explicar a origem de Deus. Ela diz que no princípio o homem conheceu a Deus, perdendo depois o contacto com Ele. Ao perder a comunicação com Deus, os homens do passado inventaram então deuses para atenderem uma necessidade intrínseca de suas vidas. Como ser pensante e pela inteligência prática o homem verificou e constatou que algumas coisas eram boas e outras eram más. A partir daí surgem principalmente a Zoroastria e o Maniqueísmo com base na existência do bem e do mal. Mais tarde com o fim dos tempos míticos surge a era dos filósofos. Aristóteles ficou famoso pelo seu argumento sobre uma Primeira Causa, que carecia de qualquer explicação quanto ao seu princípio. A partir daí muitas ideias foram surgindo até que chegamos aos tempos dos teólogos e a verdade é que até hoje a existência de Deus continua sendo objeto de fé.

Moisés queria saber o nome de Deus e recebeu uma resposta bastante desconcertante: “Eu sou o que sou”. Como Ele (Deus) não tinha um nome próprio passou a ser conhecido como o Deus Altíssimo, Deus dos Exércitos, o Deus de Abraão, o Deus de Jacó e mais tarde recebeu alguns títulos referentes a sua essência, poder ou ação. Mas estes nomes nunca foram capazes de definir com clareza a natureza de Deus. Ele continua sendo uma questão de Fé.

O evangelista João parece ter tentado ultrapassar esta barreira, dizendo que no princípio era o verbo, isto é uma palavra ou um som que deu origem a todas as coisas.

Anselmo de Canterbury, no século XI A.D., tornou-se famosos pelo seu “argumento ontológico” a favor da existência de Deus, no qual mantinha que se o homem pode acolher o conceito de um Deus perfeito, este ente deve então existir. Se Deus somente se encontrasse no pensamento humano, seria um ser imperfeito e, portanto, poderíamos pensar em algo superior ao próprio Deus. Assim sendo, seria uma contradição dizer que a perfeição não existe; portanto, o ateísmo era para Anselmo contraditório e se refutava a si mesmo. Este é provavelmente um dos argumentos filosóficos mais frágeis a favor de Deus, porém ainda se faz uso dele. Descartes o combinou com o argumento causal e insistiu que Deus deve existir para poder causar a idéia de um Deus perfeito em nossa mente. Para muitos, porém este argumento não convence de todo. São Tomaz de Aquino, no século XII, foi o mais famoso criador de argumentos filosóficos a favor da existência de Deus. Era discípulo de Aristóteles, e sua principal contribuição à teologia católica romana, da qual é agora considerado “doutor máximo”, foi uma mesclagem de filosofia aristotélica com teologia medieval. São Tomaz era algo presunçoso ao querer escrever sobre quase todos os temas conhecidos no seu tempo, porém não se pode deixar de reconhecer o seu valor ao produzir a “Suma Teológica”. Talvez a sua maior fraqueza lógica fosse a de crer que a fé podia realmente ser demonstrada pela razão; esta foi, no entanto, de certo modo, a sua idéia mais importante, já que este conceito é ainda acolhido por muitos teólogos e filósofos.

Antes de darmos continuidade em nossos argumentos vejamos o que alguns dos nossos comentaristas já afirmaram sobre os textos anteriores.

Bruno Henrique de Souza Mangueira – “mas até que ponto a fé pode ser mensurada sobre pressupostos científicos, visto ser a mesma um dom de Deus e não simplesmente a busca ao sobrenatural? Como podemos afirmar nossa fé através de pressupostos científicos?”.

Adir Eleotério de Almeida – “lembrou... Habacuque afirma que o justo viverá da fé.”

Recildo N. Oliveira – “está faltando Bíblia no sentido exato de que o conhecimento da verdade nos liberta dos niilismos, preconceitos e paradigmas...”

Estes comentários são preciosos, valorizam e enriquece o nosso trabalho. O meu muito obrigado aos comentaristas em geral. Com o tempo estaremos aproveitando outros comentários, sempre dentro do assunto do dia.

Pois bem, para o cristão é fácil entender o assunto, uma vez que ele toma a Bíblia como a palavra de Deus e ela é clara ao afirmar que sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus 11.6).

Buscando conhecimentos a respeito de Deus.
Quem não quer conhecer seu pai quando ainda não conhece? Os seres humanos sempre buscaram conhecer o seu verdadeiro criador, muitos falsos profetas e aproveitadores têm tido a oportunidade de enganá-los. Mas existem formas para você avaliar e encontrar o caminho do Conhecimento. Deus está sendo manifestado constantemente através da sua criação e por ações espirituais (João Wesley – Graça preveniente) que nos tocam as emoções e nos permite discernir a sua voz.

Um dos evangelistas faz uma afirmação muito interessante a respeito do verdadeiro Deus, isto é, o Deus que criou todas as coisas e por isso mesmo ama a sua obra, pois Ele vem dando luz a tudo isto que podemos ver e tocar. Ele está fazendo ainda hoje esta obra que no final será a sua honra e alegria, quando até a própria morte será vencida.

Veja o que disse o evangelista João: “No princípio era o verbo, o verbo estava com Deus e o verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens...”

No dia primeiro de janeiro de l960, num momento muito especial fui alcançado pela graça de Deus ao ouvir a afirmação de que: “Deus é Amor”. Esta expressão falou-me profundamente e eu descobri quem era Deus para mim. Durante aquele ano falei muito com Ele e produzi este cântico que tenho guardado comigo e pela primeira vez divulgo fora dos limites da comunidade religiosa. Espero que ele possa te inspirar e despertar no seu coração uma fé transformadora, gerando paz interior e certeza de que o Deus que você está conhecendo é um Deus que age.

A Gênese.

“No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia: havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. E disse Deus: haja luz; e houve luz. (Gn 1.1-3).

Primeiro Cântico.

O universo infinito era escuro e frio, assim como uma noite de inverno. Era a eternidade, uma noite sem princípio onde tudo poderia acontecer. Num tempo que não sabemos como medir um orvalho molhava a noite até que se ouviu o primeiro trovão. Era o poder que do nada se manifestava provocando o primeiro movimento do universo, definindo a primeira lei identificada por Pitágoras: “Tudo que se move produz um som”. Era o verbo e ele detinha em si todo poder, toda a magia necessária para gerar as galáxias, os planetas, os mares e eu também. Eu e você já estávamos lá. Era Deus! Como um engenheiro Ele foi ordenando todas as coisas e a cada palavra sua a vida tomava formas diferentes. Assim estão se formando os planetas, as estrelas e o espaço infinito está sendo decorado pelas mais lindas formas, cores e sons. Ainda hoje podemos ouvir os sons do infinito que já alguns aparelhos feitos por nós podem detectar e nós os denominamos de estática ou outros nomes que a ciência considera mais próprio. As águas correntes ou não, os mares, riachos, rios, lagos e cachoeiras dialogam com os ventos, com o frio, o calor e outros fenômenos que não entendemos e cada um tem o seu som, permitindo que nos seus leitos secretos a vida prolifere em formas variadas, gerando peixes, repteis, bactérias e vermes, cada um dentro da espécie que o autor da vida determina. Os minúsculos insetos nas matas, o desabrochar de uma flor, um cristal que se forma um pensamento novo que chega até nós, todos reproduzem o som do verbo original. Uma fera que urra, uma vaca que geme para parir seu bezerro, um grão que se decompõem para perpetuar a vida, todos levantam suas vozes imitando o primeiro gesto do criador. Uma criança que nasce e cresce e outra que não cresce, outra ainda que concebida e não nasceu, dentro do útero ou fora dele clama pelo amor do seu criador. Uma mãe que chora a perda de um filho, do seu marido ou apenas do seu amor, reproduz a angústia do filho de Deus que clamou em Getsêmane: “Se possível passe de mim este cálice, todavia não seja como eu quero, mas que seja feita a sua vontade”, e o pai gemeu de dor pois amava ao filho, no entanto amava mais ainda a humanidade que Ele criava e que agora precisava ser salva com o sangue do seu próprio filho. As alegrias de Maria, de Isabel, dos Anjos que anunciaram o nascimento de Jesus e dos apóstolos no pentecostes são os sons de júbilo do criador e de todos os seus exércitos de Anjos, Arcanjos e Espíritos que habitam o universo invisível. Estes são os sons, o verbo que está criando dois universos distintos, um visível aos nossos olhos naturais e outro visível apenas pelos olhos espirituais e que um dia se encontraram e revelaram a todos que já nasceram e haverão de nascer a verdade que liberta e torna visível toda a grandeza e toda gloria do Criador.

Segundo Cântico.

Ao contrário do que pensamos, paralelo a este mundo visível, outro mundo que foge dos nossos sentidos também se desenvolve em uma velocidade que não sabemos como medir. Ele não depende do tempo nem do espaço, por isso a nossa mente e tudo o que ela pode imaginar e criar é incapaz de mensurar e determinar-lhes forma, funcionamento ou qualquer tipo de limite, é o mundo espiritual, onde novas formas de vidas se desenvolvem. Nos primórdios, na noite escura, trovões e sons variados revelaram o verbo conforme afirma o evangelista. O verbo concebeu e deu à luz o primeiro pensamento que gerou a vontade. Pensamento e vontade reunidos geraram o conhecimento e o desejo de mais conhecimento. Nele nós; minerais, fogo, ar, água e animais estávamos presentes. Cada um segundo a sua própria natureza que vai se evoluindo buscando novas formas para glorificar e manifestar misteriosamente a essência do seu criador. Sócrates percebeu esta realidade e exclamou: “O conhecimento já existe, só precisamos pari-lo”. No conhecimento estava a tríade, o Pai o Filho e o Espírito que um dia às margens do Jordão se revelou. O Pai clamou do céu: este é o meu filho amado, em quem me comprazo. O filho se apresentou às margens do rio para cumprir a lei e dar início ao seu ministério. O Espírito permitiu que os céus fossem abertos e em forma de pomba desceu sobre Ele ungindo-o para pregar boas novas para a humanidade e dar início a uma nova era, a era da graça que já está chegando em nossos dias. Deus é conhecimento e como um arquiteto está criando um mundo novo a cada dia; Deus é maestro e rege o universo que em melodias insondáveis nos toca e faz com que cada um de nós seja uma alma vivente e depositário de um espírito que Ele mesmo concede para que possamos descobrir sua paternidade. Assim além de conhecimento infinito, arquiteto, maestro e muito mais do que possamos imaginar, Ele é AMOR. Como humanos somos como um grão microscópico da sua criação, mas Ele nos deu a graça de um pouco do seu conhecimento através do pensamento e da vontade o que permite o nosso compartilhar de sua obra nos tornando também criadores à sua imagem e semelhança. Sensíveis à sua vontade podemos nos tornar instrumentos da sua graça. Instrumento de amor capazes de transformar a vida e o mundo e trazer à luz as maravilhas que Ele detém em sua natureza. Isto fez com Descartes bradasse extasiado: “Penso, logo existo”. É assim que chegamos à existência e muitas vidas estão disponíveis para serem conquistadas por nós, pobres e frágeis humanos. Assim Deus não está na matéria, é o conhecimento, o pensamento, a vontade, as idéias e a graça reunidas em todo universo. Ele sabe e conhece tudo, sem nenhum limite de tempo ou espaço. O que será daqui a um bilhão de anos já é do seu conhecimento. Assim como Ele não é matéria, mas Espírito, Ele está constantemente entre e dentro de nós. Ele comanda o mundo espiritual onde milhares e milhares de seres espirituais estão a seu serviço por todo o universo. Dar nomes a este Deus é algo inefável que foge à minha inteligência, mas eu me aventuro em dizer que para mim: DEUS É AMOR.”

(P/AViS-Primavera de 1960). (Este texto faz parte do acervo do Projeto Amor: Cristo, Verdade que Liberta. – sua reprodução está autorizada em obras sem fins comerciais, com a citação do nome do autor).

No próximo texto estaremos tratando de: Ideologias, deuses e Deus.
(P/AViS-29/09/2009). – Até lá.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

06- Quem é o Homem?

“O homem precisa de liberdade para se educar e precisa se educar para preservar a liberdade.” (P/AViS-06/06/1962).

Introdução.
O Homem é um Ser Pensante e Cognoscitivo. René Descartes (1596-1650), considerado o Pai da Filosofia Moderna, após escrever a sua célebre frase “eu penso, logo existo” (Discurso do Método, São Paulo – Abril-Cultural – Os Pensadores, 15 – l973, IV, p.54), conclui que ele, como homem, era “uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas em pensar (...)” (Ibidem., p.55). Baixe Pascal (1623-1662), adversário da Filosofia de Descartes, também admitia o pensamento como algo essencial ao homem dizendo: “O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante (...). Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento (...). Trabalhemos, pois, para bem pensar: eis o princípio da moral.” (Pensamentos, op. Cit. VI. 347, PP. 127-128.). O homem, sem dúvida, foi feito para pensar e é a partir disto que ele se fez diferente dos outros animais.
A Força do Pensamento.
O pensamento possui um grande poder sobre o nosso comportamento depois de instalado. Ele é como um “vírus”, frágil antes de encontrar as condições favoráveis para o seu desenvolvimento, porém possui um poder surpreendente de propagação depois de fixado no organismo. Assim, o pensamento firmado em nossa mente é capaz de nos moldar e fazer de nós um santo ou um bandido usando o mesmo material, isto é, a mesma base moral de formação familiar e educacional pode com facilidade produzir duas pessoas adversas.
Jesus Cristo mostrou ao povo que os homens, por mais simples que sejam, sabem pensar e raciocinar, e isto era evidente na interpretação das condições climáticas. Todavia, Ele os recrimina por estarem usando desta capacidade para discernir o que era justo no que se referia ao próprio Cristo (Lc 12.54-57). Jesus dá a entender que, nesta questão, eles eram apenas conduzidos pelos seus interesses circunstanciais. “Não julgavam por si mesmos porque não estavam realmente interessados em verificar com quem estava a razão (...) Não utilizar a própria razão para verificar onde está a verdade acarreta ao homem o juízo de Deus.” (B. Ribeiro, Terra da Promessa, São Paulo, O Semeador, 1988, p. 54.)
A noção da existência de Deus gera no homem um senso de responsabilidade diante da vida e principalmente do próximo. O desenvolvimento do niilismo vem gerando uma mudança radical no comportamento humano.

O Poder da Fé.
Com todo o conhecimento que homem tem adquirido nestes últimos séculos, ele ainda não conseguiu se conhecer para resolver seus problemas. Ele explica o micro e macrocosmo, viaja pelo espaço, visita planetas, conhece as partículas microscópicas das moléculas, das bactérias e vírus, mas não consegue resolver os grandes problemas que afligem o seu relacionamento com os semelhantes e nem com a natureza. As guerras são cada vez mais cruentas, os rios e a atmosfera são poluídos, colocando em risco a possibilidade de sobrevivência do homem na terra, mas, contudo isto, ele continua na sua vaidade e no seu egoísmo, buscando o domínio sobre tudo e sobre todos a qualquer custo. A violência toma novas formas e a sociedade se torna refém da sua própria ganância e desejo de acumular riquezas em detrimentos de muitos que vivem excluídos e carentes até mesmo do mínimo para a sua sobrevivência. A corrupção campeia nos meios políticos e serviços públicos numa verdadeira geléia putrefata e nojenta que os homens de bem já não sabem mais como conviver. Por outro lado cresce a omissão daqueles que pela graça de Deus tem tendência para o bem. Alguns poucos homens tem coragem de se posicionar a favor da honestidade e da dignidade. Mas logo são marginalizados, perseguidos e até mortos. Este é um quadro bastante negro da sociedade atual, mas também bastante real.

Paulo destacou este conflito no homem dizendo o seguinte: “Porque o que faço não aprovo; pois o que quero fazer, isso não faço, mas o que me aborrece, isso faço.” (Rm 7. 15).
Para Aristóteles (384-322 AC), esta é a diferença entre o homem; uns só querem a verdade a seu favor e outros conseguem ver e perceber a verdade em cada momento diferente e em cada classe de coisas. Precisamos aprender a usar a nossa razão para avaliar o que aprendemos ou pensamos; a razão foi-nos dada por Deus para que a usemos de forma correta a fim de glorificá-lo através da compreensão e prática da verdade. A nossa fé, embora não possa ser totalmente reduzida à razão, precisa ter elementos de racionalidade; não é, também, simplesmente emotiva. A Igreja, ao proclamar o Evangelho, o faz a fim de que os homens ouçam e entendem o que está sendo pregado, e. desta forma, o homem seja convertido por obra do Espírito Santo.

Crer é também pensar e pensando adquirir conhecimento.

Com isto queremos dizer que o homem é um Ser pensante e que tem capacidade de adquirir conhecimento. Aristóteles (384-322 AC) percebeu isto, e disse: “Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer.” (Metafísica l.1. In op. Cit. P. 211.) Esta é uma realidade que podemos constatar nas crianças, que fazem perguntas intermináveis que muitas vezes não conseguimos responder.

O pensamento niilista abraçado por muitos filósofos no século XIX, divulgado e praticado de muitas formas até aos nossos dias, se apresenta como uma contestação contra as mentiras convencionais da humanidade civilizada. Sua proposta é uma sinceridade absoluta e em nome desta sinceridade ele exige a renúncia de todas as superstições, preconceitos, hábitos e costumes que sua razão não possa explicar. Eles se negam a dobrar-se à qualquer tipo de autoridade a não ser daquela que ele entenda que seja a sua própria razão. Normalmente, eles não têm qualquer proposta de reconstrução social em mente, só sabem agir nos níveis de oposição. Se, conseguem chegar ao poder, perdem a visão de futuro e progresso, gerando mais corrupção e mais violência. Normalmente se ligam à ciência em busca de afirmação para as suas razões. Mas como não possuem a visão do subjetivo e da espiritualidade geram um clima de competição a qualquer custo e banalizam a vida, a paz e a segurança levando a sociedade a perder os valores da fé, da esperança, da solidariedade e em conseqüência a sociedade adoece e os índices de violência alcançam níveis de grande risco com a inversão de valores tais como a honestidade e o amor ao próximo afastando assim o homem de Deus, fazendo com que, realmente, Deus se torne apenas um cadáver a ser lembrado como relíquia histórica, peça de museu, um “Deus Morto”.

Conclusão.
Mas, felizmente Deus tem sobrevivido e onde mais estas ideias se desenvolveram gerando a repressão dos valores espirituais foi exatamente aí que Deus se revelou mais vivo entre o povo após a libertação desse jugo.

O pensador inglês, Thomas Hobbes (1588-1679), observou, em 1651, que os homens, por serem egoístas, estão sempre se destruindo, querem a pretexto de competição, de desconfiança, ou de glória. (Leviatã, São Paulo – Abril Cultural). Por isso, há uma guerra constante; que é de todos os homens contra todos os homens. A máxima: “se queres a paz, prepara-te para a guerra”, cada vez mais se torna real nas relações entre os homens e as nações.

O homem, pela sua própria natureza, busca a liberdade, mas se torna cada vez mais escravo de si mesmo e muitas vezes morrem de forma inglória se julgando mártir da luta pela liberdade.

O homem, como ser pensante, tem na sua natureza a convicção sensata de que a existência da criação exige a existência de um Criador.

No próximo texto estaremos tentando responder à pergunta: Quem é Deus?
P/AViS-22/09/2009.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

05- Que Deus está morto?

Na verdade temos criado e matado muitos deuses nestes milhares de anos que vivemos neste planeta. A análise da tese nietzscheana é bastante complexa. Tendo em vista os nossos objetivos nesta série de considerações, não vai contribuir muito este aprofundamento. Contudo devemos entender que o deus morto de Nietzsche é uma realidade que merece atenção. Na sua obra “Assim Falou Zaratustra” ele revela toda a angústia de um homem ou da humanidade sem Deus. Nesta sociedade sem as restrições de um deus para ditar as normas do bem viver, poderia surgir o “Supra Homem”. No entanto isto não acontece, pois quando o homem sobe à montanha (símbolo da evolução mental), a sua carência de um deus faz com que ele venha a adorar um burro.

Mesmo sem uma análise detalhada vamos passar uma vista rápida nesta caminhada do homem imaginada por Nietzsche.

Para alguns autores a frase: “Deus está morto” tem sido sempre mal interpretada. Como poderia Deus, aquele que não tem princípio, isto é não nasceu, vir a morrer? Seria mais coerente afirmar que Deus não existe. Assim teríamos uma nova linha de discussão que nos levaria por outros rumos bem diferentes do que se pretende com esta reflexão.

Apesar do clamor de Nietzsche de que: “Deus está morto! Deus permanece morto!”, não há como entender que Deus morreu. Uma alusão a Jesus Cristo ou a sua morte na cruz, com certeza estaria fora do contexto, pois parece que na realidade ele não tinha nada contra Jesus. Ele e seus contemporâneos tinham muita resistência ao que diziam e viviam em nome de Jesus. A sociedade de seu tempo vivia numa efervescência filosófica e teológica que na realidade tem ainda repercutido até os nossos dias. Quando duas nações ou dois grupos usam o nome de Jesus ou mesmo de Deus para lhes garantir supremacia sobre o outro, então deparamos com uma deformação da Divindade, e o Deus ou o Jesus invocados não são verdadeiros. São deuses criados por homens para atender a angústia e a sua própria fragilidade. Isto nos reporta aos tempos míticos e nos faz lembrar dos deuses do Olimpo. Estes deuses sim nasciam nas mentes dos homens e podiam ser derrotados e até destruídos.

Em “Assim Falou Zaratustra” podemos encontrar ou entender o momento positivo da filosofia de Nietzsche, denominado por alguns autores como “filosofia do meio-dia”. A obra está dividida em quatro livros.

No primeiro livro Zaratustra anuncia a morte de Deus. Com a morte de Deus os homens se vêem livres dos dogmas e temores dos castigos eternos. Agora o homem é o dono do seu destino, cabe a ele através da ética e do desenvolvimento científico criar o “supra-homem”. Com isso ele sob a montanha e as verdades são reveladas, alcança um alto grau de aperfeiçoamento e fixa a doutrina excelente.

No segundo livro o homem desce a montanha porque a sua doutrina está sendo corrompida. Volta a buscar o entendimento primário da sua origem e buscar o sentido do amor que se perdeu ao passo que o conhecimento aumentou e suas emoções se corromperam desaparecendo a fé, a esperança e a caridade. Com isto perdeu-se o sentido da solidariedade. É hora de retornar às origens e entender valores perdidos como os do sofrimento, da alegria, da doação sem nenhuma recompensa. O supra-homem ataca os sacerdotes como envenenadores da vida os governadores como repressores, querem combater a ordem existente e impor o niilismo na esperança de destruir o existente, criar o vazio para impor uma nova ordem.

Estas ideias vão reforçar os movimentos revolucionários e o surgimento das ideologias que levarão a disputa entre o socialismo e o capitalismo, assuntos que veremos mais tarde.

No terceiro livro ele passa a tratar da doutrina do eterno retorno de todas as coisas. O tempo nessa concepção é um anel perfeito, isto é sem início e nem fim, é uma estrada que só pode ser conhecida no portal do instante. Deste portal segue uma estrada infinita para trás e para frente, sendo o instante o ponto onde as duas estradas se encontram. Assim todas as coisas já aconteceram e irão acontecer novamente numa repetição infinita. Este eterno retorno é o mais pesado dos pesos. E Zaratustra é, antes de tudo, “o mestre do eterno retorno”. Esta doutrina deverá conduzir à humanidade a forma mais extremada possível do niilismo, em busca da anarquia, ou seja, a sociedade dos anjos.

No quarto livro os homens superiores voltam à montanha em busca de Zaratustra. Todos os que perderam o sentido da vida voltaram à montanha a procura de um novo sentido, a grande esperança. Zaratustra os encontro e lhes oferece abrigo em sua caverna, junto a seus animais, a serpente e a águia que representam o conhecimento e o orgulho respectivamente. Os homens superiores não estão preparados para a nova ordem que buscam e se sentem tentados a buscar o que adorar em lugar do Deus Morto. Passam a adorar o jumento como encarnação da doutrina de Zaratustra. Conclui, reconhecendo que apesar de tantos esforços, indo e vindo através da Lei do Eterno Retorno, os homens superiores estão longe de serem aqueles almejados por Zaratustra.

Muito se tem falado sobre o pensamento de Nietzsche, mas a Morte de Deus, segundo a filosofia Nietzscheana pode nos levar a pensar sobre o absurdo da negação das conquistas feitas pelo homem através dos mais variados sistemas, incluindo a sua fé em um Criador. É evidente que precisamos periodicamente rever nossos valores e princípios, mas nunca abandonar valores que foram conquistados através de muito sacrifício, reflexões e trabalhos. Negar que o homem tem caminhado positivamente é falta de censo e nos leva sempre a retrocessos que nos obrigam a reiniciar.

O Supra-homem de Nietzsche depois de tantas conquistas volta aos tempos míticos, adorando um burro, mostrando assim que ele retornaria a origem de tudo, isto é ao
Adão para repetir todo o processo até o novo nascimento de Jesus Cristo. Mostra ainda que o homem por mais que se desenvolva precisa cultuar.

Isto nos coloca diante de duas questões que estaremos tratando nos próximos textos:
Primeiro – Quem é o Homem? Segundo – Quem é Deus?
Até lá!!! (P/AViS-15/09/2009).

terça-feira, 8 de setembro de 2009

04- Deus está morto.

“Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste até não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu até mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste até, de uma história superior a toda a história até hoje!”— (NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência, § 125. 1844 - 1900)
“Por séculos, teólogos e filósofos têm se debatido com o problema do sofrimento humano. Alguns consideram o sofrimento consequência do pecado, explicação que não pode ser inteiramente rejeitada, pois a Bíblia nos diz: "Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gálatas 6.7). Outros crêem que o sofrimento pode vir como uma provação da fé. A Bíblia sugere que isso às vezes é verdade, como no caso de Jó. A Bíblia nos diz também que às vezes o sofrimento pode ser uma experiência de aprendizado, sendo Deus nosso mestre benevolente (Hebreus 5.8 e 12.7-11). Cheguei à conclusão, no entanto, de que muitas vezes não há uma razão aceitável para o sofrimento. Com muita frequência, o sofrimento simplesmente não faz sentido e não produz nenhum bem visível. Um bebê nasce seriamente deformado. Uma mãe morre de câncer de mama. Um avião cai, matando centenas de passageiros. Ainda assim, temos a promessa de que, em nossos momentos de sofrimento, quaisquer que sejam as nossas tribulações, por mais pesados que sejam nossos fardos, não importa qual seja a nossa angústia, nada pode nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Romanos 8.35-39). Com essa certeza, podemos encontrar consolação e coragem para seguir em frente com fé, sabendo que este mundo não é o nosso lar e confiando que um dia os mistérios da vida serão explicados.
Oração: Em tempos de frustração e desespero, ó Deus, que possamos sentir a Tua presença e encontrar força na Tua palavra. Em nome de Jesus. Amém.
Pensamento para o dia: Quando se acumulam os problemas, podemos confiar nos braços fortes de Deus. ”Ralph Lord Roy - Publicado em “No Cenáculo” – 27/08/2009 - (Connecticut, EUA).

“20 - Um cartão de visita: (do meu acervo – fragmentos).
Um senhor de 70 anos viajava de trem tendo ao seu lado um jovem universitário que lia o seu livro de ciências. O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta. Foi quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia e estava aberta no livro de Marcos. Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:
- O senhor ainda acredita nesse livro cheio de fábulas e crendices?
- Sim, mas não é um livro de crendices. É a Palavra de Deus. Estou errado?
- Mas é claro que está! Creio que o senhor deveria estudar a História
Universal. Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda crêem que Deus tenha criado o mundo em seis dias. O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.
- É mesmo? E o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a Bíblia?
- Bem, respondeu o universitário, como vou descer na próxima estação, falta-me tempo agora, mas deixe o seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência.
O velho, então, cuidadosamente abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário. Quando o jovem leu o que estava escrito, saiu cabisbaixo sentindo-se pior que uma ameba. No cartão estava escrito: “Professor Doutor Louis Pasteur - Diretor Geral do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade Nacional da França”.
"Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima"
( Louis Pasteur - 1822 - 1895).

Estamos diante de três figuras ilustres e que pensam de forma totalmente diferente a respeito de Deus.

NIETZSCHE
Nietzsche nasceu numa família luterana em 1844, sendo destinado a ser pastor como seu pai, que morreu jovem em 1849 aos 36 anos, junto com seu avô também pastor luterano. Entretanto, Nietzsche perde a fé durante sua adolescência e os seus estudos de filologia afastam-no da tentação teológica. "Deus está morto" (Gott ist tot, em alemão) é uma frase muito citada do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Aparece pela primeira vez em A gaia ciência, na seção 108 (Novas lutas), na seção 125 (O louco) e uma terceira vez na secção 343 (Sentido da nossa alegria). Uma outra instância da frase, e a principal responsável pela sua popularidade, aparece na principal obra de Nietzsche, Assim falava Zaratustra.

Louis Pasteur
Louis Pasteur foi um cientista francês que fez descobertas que tiveram uma grande importância tanto na área de química quanto na de medicina. Foi ele quem criou a técnica conhecida hoje como pasteurização. Louis Pasteur nasceu em Dole no dia 27 de dezembro de 1822. Seu pai foi sargento da armada napoleônica.

Ralph Lord Roy
Ativista americano, ministro metodista. Tem liderado movimentos a favor da liberdade e da paz. Em 1962, Roy levou uma peregrinação de oração diante de Albany, Geórgia salão da cidade. Ele e mais 70 leigos e clérigos foram presos por sua participação na manifestação. Roy continuou sua militância ao longo dos anos e em 10 de dezembro de 2002, foi preso na Missão E.U. à ONU durante um protesto contra a invasão vinda do Iraque.

Diante destes textos não podemos deixar de perguntar: que Deus está morto?

Muitos têm afirmado que Deus nunca esteve tão vivo como nos nossos dias. Deus está vivo ou os deuses estão vivos. O que ou quem é o Deus deste século?

No próximo texto vamos tentar entender, que Deus, Nietzsche afirma que está morto. Até lá! (P/AViS-08/09/2009-3ª feira).

terça-feira, 1 de setembro de 2009

03- Os Pais do Niilismo.

Não estamos escrevendo para nenhum grupo em especial. A nossa intenção é colocar em discussão um assunto que pode parecer próprio dos acadêmicos, em condições de ser discutido pelo povo em geral. Assim, religiosos, estudantes, livres pensadores, buscadores da verdade em qualquer comunidade poderão encontrar abordagens que venham a interessar.

Para alguns autores o niilismo é a negação e a morte da verdade absoluta, a carência de resposta aos “porquês da vida. Os valores tradicionais se tornam como roupas que envelheceram pelo uso prolongado "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". Tudo é posto radicalmente em discussão. As verdades e os valores tradicionais estão superados e os caminhos antes confiáveis se tornam como armadilhas prontas para caçar os incautos que insistem em trilhar pelas sendas dos antepassados, que já não oferecem segurança e nem ancoradouro aos transeuntes.

Podemos entender o niilismo como um estado de espírito alcançado pelo indivíduo ou por uma comunidade. Chegamos a este estado pelos desgastes dos valores vivenciados que podem ocorrer pelo mero uso, pelo desejo do novo ou pela corrupção dos costumes. Nestes momentos surgem os profetas, filósofos, revoltados e contestadores que passam a questionar os fundamentos daqueles princípios considerados como verdade. Estes podem ser considerados como os pais do niilismo, objeto de nossas considerações. O início de nossa era é marcado por duas figuras profundamente niilistas: Jesus Cristo e Barabás.

O niilismo pode ser considerado "um movimento positivo”, quando pela crítica e pelo desmascaramento nos revela a fragilidade de cada fundamento, verdade, critério absoluto e universal e, portanto, convoca-nos diante da nossa própria liberdade e responsabilidade, agora não mais garantidas, nem sufocadas ou controladas por nada". No entanto pode também ser considerado como "um movimento negativo”, quando nesta dinâmica prevalecem os traços destruidores e iconoclastas daqueles que só sabem negar, mas que são incapazes de fazerem novas propostas para superar os impasses produzidos pelas incertezas destes momentos.

Se recorrermos aos registros religiosos, principalmente judaicos, islamitas e cristãos vamos descobrir que o primeiro contestador foi Satanás, que revoltado tentou ser igual a Deus. É interessante que estas tradições ou lendas como entendem alguns mostram que mesmo após a condenação de Lúcifer (que é tratado como satanás, o opositor) o seu relacionamento com Deus se dá em diversos momentos. Assim é que encontramos os dois negociando o destino de Jó e Jesus discutindo com Satanás no deserto durante seu jejum iniciático para dar início ao seu ministério. Encontramos ainda nos ensinos de Jesus a afirmação de que o trigo e o joio precisam crescer juntos. Em outras religiões encontramos os princípios da sobrevivência conveniente, necessária e obrigatória do “bem” e do “mal” (Yin-Yang na filosofia chinesa).

Ao repassar a história do pensamento vamos encontrar muitos pais do niilismo. No entanto os estudiosos entendem e, parece que há um consenso, de que modernamente Friedrich Nietzsche (1844-1900) é considerado o pai do niilismo moderno. Assim no próximo texto estaremos analisando e tentando interpretar a afirmação: “DEUS ESTÁ MORTO”. Até lá. (P/AViS-01/09/2009-3ª feira