051- Daqui a pouco pode não chegar. ( BR 062/1)
“Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o coração...” (Salmo 95-7c e 8a).
Segunda terça feira de maio de 1986. O telefone tocou. Atendi, do outro lado da linha uma voz feminina, muito simpática e familiar perguntou: - é o senhor Alfredo que fala? Respondi: - Sim, é ele mesmo. Ela prosseguiu: como vai o senhor? – Tudo bem. – Olha senhor Alfredo nós estamos numa campanha especial e desejamos contar com sua colaboração. – Olha Jaqueline, este mês já atendi diversos pedidos, agora já não estou podendo atender novos pedidos. – Mas eu posso anotar aqui uma contribuição para o próximo mês? – O próximo mês pertence a Deus. – Mas você sabe que até o “daqui a pouco pode não acontecer?”.
Enquanto ela refletia, eu continuei: Veja você eu estava em Nova Lima, encontrei um amigo e começamos a conversar. Depois de alguns momentos nos despedimos e, imediatamente, ele começou a atravessar a rua. Deu uns três ou quatro passos e foi violentamente atropelado e atirado no meio fio de rua. Socorremos, imediatamente, mas enquanto esperávamos o socorro de uma ambulância, ele veio a falecer e ao médico coube apenas confirmar a morte e lavrar o óbito.
Jaqueline, com um sorriso amarelo, me interrompeu,” poxa o senhor está trágico hoje”.
Eu respondi então, mas pode estar certa que eu espero que Deus ainda me permita fazer muitas contribuições para a obra de vocês. Legal!!! Mas me alivia por hoje. – Não eu só agradeço, pois eu sei que sempre que o senhor pode contribuir, o senhor não nos nega sua contribuição. – Um bom dia e sucesso em sua campanha. – Um bom dia e vida longa!
Aquela expressão ficou repetindo em meu ouvido: “O daqui a pouco pode não chegar”.
Lembrei-me de um soldado que trabalhava comigo no Exército, em Bagé – RS.
Uma linda manhã ensolarada, a tropa estava acampada para manobras no “Saicam”. (Saicam é um local onde periodicamente as tropas daquela região realizam prolongadas manobras de treinamentos combinados de todas as armas).
Toda tropa havia saído, apenas eu com a minha subunidade de apoio logístico ficamos no acampamento para preparar o almoço que deveria ser levado para o local dos exercícios.
Dois soldados estavam cuidando da manutenção das armas, bem ao meu lado. Um dos soldados deu o golpe de segurança em uma pistola (golpe de segurança é um movimento regulamentar que se faz com a arma antes de abri-la para manutenção). Para sua surpresa existia uma bala esquecida na câmara da arma que foi detonada. Verifiquei que o outro soldado que estava também próximo e se encontrava baixado limpando uma arma e nos contando uma piada, todo falante e sorridente, mudou seu semblante, silenciou e tombou levando a mão até ao pescoço. Imediatamente o examinei e constatei que a bala havia penetrado em seu ombro esquerdo e saído entre as costelas do lado direito. Dei-lhe uma palavra de encorajamento, orei e constatei que ele já não podia falar e que estava sendo asfixiado pelo sangue que já chegava a sua boca.
Enquanto o motorista ligou a ambulância e conduziu ao local do acidente, ele já estava morto.
Com o telefonema e a lembrança desse fato, decidi escrever esta reflexão e fixei esta expressão, que durante muito tempo usei nos meus apelos finais, principalmente junto aos recuperandos usuários de drogas no CEMAT- Centro Metodista de Assistência aos Toxicômanos em Juiz de Fora e no Presídio de Linhares, onde tínhamos um trabalho especial junto aos presidiários.
Em uma oportunidade no Presídio de Linhares em Juiz de Fora – MG, após o nosso trabalho e eu ter pregado urgência de uma mudança radical na vida para se livrar de satanás e filiar-se aos batalhões de Jesus Cristo, um jovem me procurou, visivelmente, emocionado e disse-me: eu quero me firmar em Cristo. Olhei firmemente para aquele jovem e senti que ele estava tocado pelo Espírito Santo. Então falei com toda a convicção e firmeza: faça agora, aceite Jesus e não deixe para daqui a pouco, pois o daqui a pouco pode não chegar. Notei que ele trazia nas mãos um exemplar do Novo Testamento. Indiquei algumas referências para sua leitura, orei com ele e depois orei por ele. Nesta época, eu estava para mudar de Juiz de Fora, o que realmente aconteceu com a minha ida para Bagé – RS. O tempo passou e nunca mais tive notícias daquele jovem. Em 1985, voltei para Juiz de Fora e retornei para a minha Igreja, Igreja Metodista Central de Juiz de Fora.
Eu estava certa manhã de domingo em minha Igreja assistindo ao culto, quando a irmã da recepção me chamou dizendo que alguém estava querendo falar comigo no saguão da Igreja. Eu pensei e disse que verificasse de quem se tratava, pois eu não esperava por ninguém naquela manhã. Ela foi e retornou dizendo que era um rapaz que eu havia convidado para ir à Igreja. Então eu lhe disse, está enganado, não convidei ninguém para vir à Igreja. Esta semana estive fora e não fiz contato com ninguém, pois só cheguei ontem à noite. Ela foi novamente se entender com ele e voltou insistindo, irmão Alfredo, é o senhor mesmo, ele fez uma descrição perfeita de você. Diante da insistência não tive como deixar de ir verificar de quem se tratava. Quando ele me viu, veio logo em minha direção, abraçou-me e disse é o senhor mesmo. Eu olhei e disse, mas eu não me lembro de você, ao que ele respondeu: há doze anos que o senhor me convidou. Mas como? Eu estava na penitenciária e o senhor pregou uma mensagem maravilhosa e nos convidou para que quando saíssemos do presídio viéssemos visitar a sua igreja. Naquele dia eu recebi Jesus como meu salvador. Já passaram doze anos e eu acabei de cumprir a minha pena e não podia voltar para a minha terra sem atender ao seu convite. Ficamos emocionados e choramos de alegria, eu, ele, a irmã que me chamou e a minha esposa que estava também na recepção naquela manhã.
Este é o exemplo de alguém que atende a urgência do chamado de Deus. Durante doze anos ele deu testemunho de Jesus Cristo naquele Presídio e voltou para sua terra glorificando a Deus e testemunhando o evangelho que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele crê.
Este, com toda a certeza ouvirá naquele dia o convite: “Vinde benditos do meu Pai possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.” (Mt 25. 34).
Que este seja um dia especial em sua vida
Seu irmão e servo Ev. Alfredo Vieira
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