terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

20- A Revisão.

Introdução:

“Uma Experiência Marcante, Desafiadora e Cheia de Possibilidades.

Não existe na vida de qualquer pessoa, homem ou mulher, experiência mais marcante, desafiadora e tão repleta de possibilidades de que receber, por fé, a Jesus Cristo como Salvador e Senhor para , então segui-lo de perto. Muitos, por não compreenderem a dimensão e o significado disso, confundem essa realidade como uma mera opção religiosa, reduzindo-a a uma mera filosofia de vida.

Crer em Jesus Cristo e tê-lo como Salvador e Senhor é, na verdade, um divisor de águas na história da existência humana, ao ponto de dividi-la entre o antes e depois. Por isso pode-se dizer que essa é a experiência mais marcante da vida. Possivelmente outras experiências dividem nossa história de vida entre o antes e o depois, contudo, nada se compara ao encontro que se tem com Jesus Cristo, pois antes de conhecê-lo a pessoa está morta em seus delitos e pecados, fazendo sua própria vontade, mas depois é ressuscitado da morte para a vida com Cristo, para uma vida de obediência e contentamento verdadeiros.

É uma experiência desafiadora, pois vivenciá-la requer renúncia, negar a nós mesmos, tomar a cruz e morrer. João Wesley diz que isso “não é coisa de importância secundária: não é apenas um acessório, como o são alguns elementos da religião; mas é absoluta, indispensavelmente necessário, quer para que nos tornemos discípulos de Cristo, quer para que nos conservemos nesta condição. É absolutamente necessário pela própria natureza do caso, para que o acompanhemos e o sigamos; tanto mais que, se não procedermos assim, não seremos seus discípulos”.

É uma experiência cheia de possibilidades, pois quando se conhece a Jesus Cristo, com Ele e Nele vencemos o pecado, o mundo e suas propostas mentirosas. Em Jesus temos a nossa dignidade restaurada como pessoas criadas por Deus. A outra possibilidade é a de servirmos a Deus e ao nosso próximo em amor verdadeiro, abnegado e com o coração de servos(as). Assim, esvaziados de nós, caminhamos com o “mesmo sentimento que houve em Cristo”. Na verdade essas possibilidades são realidades que se experimenta, de fato, pois quem está em Cristo “é nova criatura”, tem novo coração, nova mente e novos valores.

Que Deus nos ajude a vivenciarmos a nossa experiência cristã com verdade, alegria, sendo aperfeiçoados diariamente como filhos e filhas Dele. Que o Espírito Santo nos encha de poder para que o nosso testemunho pessoal e como igreja seja impactante e atraia muitas vidas para Jesus Cristo.” (Pastor Metodista: Osman Ferraz).



Sobre a Ética:

Ela conseguiria conciliar as diversas expressões religiosas e ideológicas, criando possibilidades para o surgimento de uma moral onde todos viveriam em solidariedade e respeito mútuo, permanecendo cada um fiel ao seu pequeno tanque? (Ref. Ao nº 2 desta série).

Somos de opinião que viver dentro da sociedade atual é ao mesmo tempo desconcertante e desafiador. É desconcertante porque o ontem foi muito diferente de hoje e o amanhã é sempre uma incógnita. É desafiador em consequência desta incerteza que nos convida a rever nossas ideias e opiniões diariamente.

“Aceitar a existência de um Criador é um ato racional. Aceitar quem é o Criador é um ato de fé.” (Adauto Lourenço – cientista cristão).

A filosofia vê o homem como um ser pensante que precisa ser formatado.
A ciência vê o homem como um ser físico (biológico) e mental que carece de conhecimento e experimentação. A religião vê o homem como um ser composto de corpo (físico-biológico), alma (mente-psiquê) e espírito (divino) – uma visão holística.


Não se sabe com certeza quando o conhecimento e a inteligência chegaram ao nosso planeta. O que se pode afirmar é que sem estes dois agentes nada do que existe poderia vir à existência.
Quanto à fé, aqui entendida como crença em algo que está fora do alcance do conhecimento, é fácil entender que ela veio a posteriore. Quando se fala de fé, pensamos logo em religião e esta com certeza veio muito depois.
Feitas estas colocações iniciais, já podemos perguntar: onde fica o homem em função disto? Com certeza o homem foi uma solução que o conhecimento e a inteligência encontraram para tomarem forma concreta e se manifestarem neste planeta. Não há acordo entre filósofos, teólogos e cientistas a esse respeito. Esse desacordo deve ser visto como uma estratégia do conhecimento para manter viva e atuante a inteligência. Esta por sua vez governa a vida que jamais poderia existir sem as duas. O homem torna-se, desta forma, refém das duas. A inteligência exige que o homem adquira cada vez mais conhecimento, pois ele é o seu encantamento. O conhecimento encanta o homem, dando a ele consciência de sua própria existência e do seu valor. Mais conhecimento e o homem se considera mais importante, mais poderoso e capaz de dominar. Assim, o homem surge neste planeta com a missão de dominar.
Mas como ele não pode dominar todas as coisas, surge a fé que vai permitir o preenchimento das lacunas que são criadas entre as diversas possibilidades de alcançar conhecimentos que ainda não estão ao seu alcance. Assim o homem sedento de domínio, parte para as grandes conquistas. Pela fé ele acredita que vai adquirir maior poder através da inteligência que permite a criação de estratégias e meios que acabam sendo formalizados por aqueles que ganham a confiança do grupo. É a partir daí que vão surgindo os diversos tipos, estruturas e normas sociais.
O homem olhava à sua volta e tomava conhecimento superficial da existência da natureza, até que num determinado momento ele começou a fazer certas perguntas a si mesmo. Uma das primeiras perguntas, com certeza, foi: como surgiram as coisas que o rodeavam? Posteriormente passou a questionar a sua própria origem. Como não havia respostas adequadas, a inteligência recorreu à fé e a organização de grupos para adorar e cultuar ao criador, surgindo daí a religião com a qual a inteligência passou a dirigir os destinos dos homens.
O cristianismo e o judaísmo, partindo destes princípios afirmam que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus com plenos poderes para ter domínio sobre a natureza. (Gn 1. 28). Só que o homem não se contentou em dominar apenas a natureza, passou a disputar domínio com o seu semelhante.
O primeiro ato decisivo sobre este desvio foi a disputa entre Caim e Abel, provocando o assassinato de Abel.
A inteligência concluiu que apenas o ato de adorar ao criador não foi capaz de harmonizar as relações entre os homens. Em consequência disto deu-se início a outra providência, normatizar leis de relacionamento surgindo assim os princípios éticos e morais, que juntos com as religiões foram sendo difundidos entre todas as raças humanas existentes no planeta. Tanto a religião, a ciência, a ética e a moral, no futuro, alcançarão seus objetivos ao passo que se colocarem a serviço do conhecimento, da inteligência e da fé.
A importância deste breve texto, talvez para alguns um pouco folclórico, é mostrar que tanto a Religião, a Ciência, a Ética e a Moral tiveram um mesmo princípio: a inteligência e um mesmo objetivo: harmonizar os relacionamentos dos homens entre si e com a natureza. Daí a importância da Ética dos Relacionamentos.

Denúncia ética:

Há uma tradição do senso comum que vê com maus olhos o procedimento de denunciar e que o acusa de ter a qualidade oposta à ética. A moral brasileira cotidiana, como qualquer outra, contém clichês, provérbios, máximas, que carregam significados e sentidos éticos duvidosos. Pelo conteúdo desses clichês ficamos sabendo que o brasileiro gosta de “levar vantagem em tudo”, pode “dar jeito em tudo”, que “todo mundo mete a mão: por que eu não?”, que “cada um por si, Deus por todos” etc. Na cumplicidade entre colegas de trabalho, concidadãos, amigos, vizinhos, facilmente prospera uma noção equivocada de denúncia. Nela, o denunciante, chamado pejorativamente de “dedo-duro” ou “delator”, é considerado um traidor, um desleal aos seus iguais, é reduzido a um bajulador. O raciocínio dessa cumplicidade é o seguinte: a lealdade primeira é devida aos “iguais”, não importando qual seja a qualidade desses iguais, se são bons ou maus, se estão certos ou errados; a lealdade ao grupo, família, corporação, é afirmada como precedente (anterior) à lealdade à sociedade e à coletividade. Nessa moral cotidiana da cumplicidade, o irmão, amigo, vizinho, colega, é protegido e não ameaçado. Nessa moral corporativista, a denúncia é uma quebra da “harmonia” entre os iguais. O mote geral de “unidos venceremos” se aplica, aqui, a uma ideia vaga de que o inimigo é sempre o que está “fora”, é o “estranho”, e também o que está “mais acima”, o que tem mais força. Nessa moral, acredita-se que é preciso união para se ter a força dos “iguais”.
Uma das responsabilidades dos indivíduos numa empresa é a vigilância ética sobre os direitos e isso implica em não ser cúmplice de irregularidades, não ocultar transgressões, não se omitir diante de faltas éticas (corrupção, favorecimentos ilegítimos, violação de direitos, discriminações culturais etc.). Um modo concreto de se manifestar o não conformismo com essas transgressões e de se afirmar o compromisso positivo com o bem-comum é precisamente o ato de denunciar as transgressões. Essa denúncia é uma manifestação positiva de lealdade ao bem comum, é uma lealdade aos direitos, e tem sim elevado valor ético. Tais dispositivos justificam-se mais ainda quando são associados a garantias de que as denúncias serão investigadas adequadamente (por meio de procedimentos transparentes, idôneos e objetivos) e de que haverá consequências, ou seja, de que os responsáveis serão punidos com justiça. Ao mesmo tempo, infelizmente, prospera também uma prática de inimputabilidade do denunciante: supõe-se que, mesmo sem provas, se possa trazer a público uma denúncia contra alguém (como se o próprio “ato heroico” de denunciar compensasse a falta de provas). Uma denúncia sem provas é uma calúnia e caluniar dá ao acusado o direito de restabelecer publicamente sua honra e dignidade. Outra questão é a do anonimato das denúncias. A moral da vingança e represália contra denunciantes gera medo e leva muitos, frequentemente, a se esconderem no anonimato ao denunciar, seja por proteção justificada, seja por covardia. A boa consciência de cada pessoa deverá ser o juiz, nesses casos.

História das Ideias:

A história das ideias morais está estreitamente ligada a dos sistemas filosóficos, embora devamos admitir que umas e outros sejam independentes do desenvolvimento social, econômico e cultura geral, assim como da consciência religiosa. Na antiguidade, as éticas relacionadas com o platonismo, o estoicismo e o epicurismo são as mais conhecidas. Na Era Moderna, o sistema filosófico de Kant deu um grande lugar à ética do dever e da intencionalidade, enquanto vários filósofos ingleses e norte-americanos elaboraram éticas utilitaristas e pragmáticas. Mais recentemente o marxismo e o existencialismo introduziram uma concepção nova do homem com o consequente significado ético. Qualquer história da Filosofia permitirá traçar as linhas principais desse desenvolvimento. Em forma muito amena e acessível o faz o livro de Will Durant: La história de La Filosofia (Santiago do Chile, Letras Imp – 1937). Quem desejar aprofundar-se mais na história das ideias e da Ética pode orientar-se a partir das seguintes obras: Lês grandes líneas de La filosofia moral de Jacques Leclercq (Madrid, Gregos); La ética moderna, de Teodor Litt (Madrid, Revista de Ocidente, 1932); La consciência moral, de H. Zbinden e outros (Madrid, Revistas do Ocidente, l961); a Internet oferece muito material de boa qualidade sobre o assunto.
A ética católica romana mais importante dos últimos anos é a de Bernhard Haring, La Ley de Cisto (Barcelona, Herder, 1958). Recentemente se discutiu muito a chamada ética situacional, que insiste em decisões éticas particulares, vinculadas às circunstâncias imediatas. Neste sentido a obra clássica é o livro de John Fletcher, Ética de situación (Barcelona, Ediciones Ariel, 1970).
Nos últimos anos, o Brasil através de seminários, simpósios e congressos tem produzido um bom material sobre a ética. Algumas destas obras encontram-se arroladas em nossa Bibliografia.
Através de nossa proposta de “Novos Paradigmas da Ética”, esperamos estar apresentando uma nova visão sobre o assunto, ou seja: Uma visão globalizante partindo do princípio de diversos relacionamentos: “a Ética dos Relacionamentos”.

Sobre a espiritualidade:

“Gosto de pensar na espiritualidade enquanto uma relação das experiências adquiridas, do conhecimento e do saber com a vida prática. Em outras palavras, pensar na conexão do interior com o exterior. A espiritualidade nos desafia a sermos uma pessoa que evidencia esta conexão em todos os momentos da vida.

No que se refere aos ministérios desenvolvidos a espiritualidade conecta o sentido de vocação com os atos ministeriais praticados. Destaco, portanto, uma tríade nesta espiritualidade ministerial: carisma, caráter e caridade. Sem carisma não há qualidade e autoridade no ministério que se exerce, sem caráter não há autoridade nas ações pastorais e ministeriais e sem caridade não dá para chegar ao coração das pessoas com as quais trabalhamos.


Carisma:

Já tive a oportunidade de desenvolver este tema em outros textos, incluindo o livro publicado pela EDITEO (O Carisma do Ministério Pastoral), onde apresento os contornos do carisma pastoral. Ao falar de carisma estou me referindo ao ato de reconhecimento e de mandato dado pela Igreja. O carisma, seja do ministério pastoral ou dos ministérios laicos, é reconhecido pela comunidade cristã e desenvolvido em sintonia com a eclesiologia. Não cabe, seja qual for a denominação, um ministério autônomo e sem qualquer relação com as doutrinas, em especial a que define o modo de ser igreja.

Carisma significa o dom através do qual o Espírito Santo age na vida do cristão e da Igreja na medida em que o cristão se oferece a Deus em resposta ao Seu amor. O carisma se evidencia de forma comunitária e não individualizada, pois ele se expressa por meio da dedicação da pessoa ao serviço de Deus e por meio da Sua Graça.

Em outras palavras, o carisma que atribui autoridade ao ministério, não é o pessoal, não são os dons pessoais ou os talentos da pessoa, e sim o mandato, a ordenação ou a consagração realizada pela comunidade de fé.

Caráter:

O ministério “carismático”, ou seja, aquele que tem o carisma dado pela Igreja é acompanhado por comportamentos e atitudes que evidenciam uma boa índole, um bom caráter, um conjunto de boas qualidades. Nas cartas pastorais (I e II Timóteo e Tito) o autor apostólico destaca várias qualidades que se referem ao comportamento ético e relacional dos líderes da comunidade de fé. Fala, portanto, de caráter e de integridade na vida pessoal, familiar e social.

Falar do carisma é o mesmo que falar da integridade da pessoa. O que confere valor e autoridade ao carisma recebido por ordenação e consagração é a integridade que a pessoa evidencia, em termos de comportamento ético, responsabilidade, transparência, honestidade, respeito e confiabilidade. Sem esta integridade a pessoa que exerce um determinado ministério, mesmo que possua o carisma, não possuirá autoridade e legitimidade para suas ações ministeriais. Da mesma forma que na figura da espiritualidade há conexão do interior com o exterior, deve existir conexão entre o carisma dado pela Igreja e o caráter da pessoa que recebe o mandato (carisma). O carisma sem caráter não tem substância e qualidade.

Caridade:

Poderia falar do amor, mas preferi a expressão caridade. Parece que o amor tem sido tema dos escritores bíblicos que ficou distante de nós, tema de músicas que são cantadas nas igrejas locais dominicalmente ou tema de poesia e romance. O amor como descrito pelas sagradas escrituras e que se refere ao ato de entregar-se pelos outros, perdoar, pedir perdão, restauração, etc, parece ser algo que ficou no passado. O amor se transformou meramente numa virtude teologal quando deveria ser um fruto sempre presente na vida do cristão. Desta forma, a música que fala da volta ao primeiro amor, lembrando a carta dirigida à Igreja de Éfeso (Ap 2.4), tem razão: a Igreja precisa voltar ao primeiro amor e começar de novo suas boas obras na ótica do ágape.

Optei por falar da caridade, pois se não é possível amar como Cristo amou, que haja pelo menos caridade para com os mais fracos, caridade para com os diferentes, caridade para com os que pensam de forma diferenciada e que ela seja para integrar e incluir os que ficam marginalizados. Recordo-me das palavras do apóstolo Paulo dirigidas aos tessalonicenses, quando diz: “admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejas longânimos para com todos” (I Ts 5.14). Estas palavras inspiram, de certa forma, atitudes de caridade.
Caridade pode ser complacência, benevolência ou compaixão e caridoso seria aquele que procura identificar-se com o amor de Deus. Se conseguirmos isto em nossas práticas ministeriais já estaremos num bom caminho.” (Texto de Josué Adam Lazier – Bispo da Igreja Metodista).

Com isso encerramos a segunda fase de nossas reflexões. Convidamos aos nossos leitores para a terceira e última fase desta série com os seguintes temas:

21- Surge a Ética.
22- Os primeiros conceitos de Ética.
23- A Ética dos Relacionamentos.
24- A Ética da Solidariedade.
25- O Futuro da Ética.
26- Humanismo e Espiritualismo.
27- A Teologia da Graça.
28- O Futuro da Religião.
29- Revisão.
30- Conclusão Geral.
Nota: Voltaremos com os novos textos a partir de 23 de março de 2010. (P/AViS-23/02/2010).

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