terça-feira, 5 de janeiro de 2010

18- Em defesa da Filosofia. (II/II)

A Filosofia que chegou até nossos dias:

A partir da Filosofia surge a Ciência, pois o Homem reorganiza as inquietações que assolam o campo das idéias e utiliza-se de experimentos para interagir com a sua própria realidade. Assim a partir da inquietação, o homem através de instrumentos e procedimentos equaciona o campo das hipóteses e exercita a razão. São organizados os padrões de pensamentos que formulam as diversas teorias agregadas ao conhecimento humano. Contudo o conhecimento científico por sua própria natureza torna-se suscetível às descobertas de novas ferramentas ou instrumentos que aprimoraram o campo da sua observação e manipulação, o que em última análise, implica tanto a ampliação quanto o questionamento de tais conhecimentos. Neste contexto a filosofia surge como "a mãe de todas as ciências".

Podemos resumir que a filosofia consiste no estudo das características mais gerais e abstratas do mundo e das categorias com que pensamos: Mente (pensar), matéria (o que sensibiliza noções como quente ou frio sobre o realismo), razão (lógica), demonstração e verdade, religião (a relação com o sagrado).

Levando-se em conta a ordem cronológica e a evolução das idéias podemos dividir a história da “Filosofia Grega” em quatro períodos:

I. Período pré-socrático (séc. VII-V a.C.) - Problemas cosmológicos. Período Naturalista: pré-socrático, em que o interesse filosófico é voltado para o mundo da natureza;
II. Período socrático (séc. IV a.C.) - Problemas metafísicos. Período Sistemático ou Antropológico: o período mais importante da história do pensamento grego (Sócrates, Platão, Aristóteles), em que o interesse pela natureza é integrado com o interesse pelo espírito e são construídos os maiores sistemas filosóficos, culminando com Aristóteles;
III. Período pós-socrático (séc. IV a.C. - VI d.C.) - Problemas morais. Período Ético: em que o interesse filosófico é voltado para os problemas morais, decaindo, entretanto a metafísica;
IV. Período Religioso assim chamado pela importância dada à religião, para resolver o problema da (séc. VII – XVIII) vida, que a razão não resolve integralmente. O primeiro período é de formação, o segundo de apogeu, o terceiro de decadência.
V. Período da Pós-Modernidade (séc. XIX – XXI) - Vejamos o que a Professora Leda Dantas da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil, nos fala sobre a “Filosofia da Pós-Modernidade”:
“A Modernidade nasce sob o signo da liberdade. O homem é livre porque não está mais à mercê do obscurantismo da religião, mas é capaz de entendimento. A filosofia e a ciência, e não mais os mitos, definiam o verdadeiro. O homem livre era aquele que conhecia a verdade racionalmente concebida e por ela definia o seu destino.

O homem faz a sua história - essa é uma idéia tipicamente moderna. Aliás, a
modernidade pode ser considerada a ‘época da história’. A idéia agostiniana de uma história linear, que resultaria no juízo final e na realização do bem divino, é secularizada. Em Kant, Hegel e Marx a história segue um curso linear e pressupõe um nexo essencial com a emancipação humana. Mas, talvez em nenhum outro teórico da modernidade essa ideia (de que os homens fazem sua história e neste processo eles próprios se fazem) tenha sido mais enfaticamente defendida do que em Marx. Se em Kant havia uma providência e em Hegel um sujeito absoluto, em Marx, a história é obra essencialmente humana. Não haveria absolutamente nada para além dos homens, para além da história.

Marx tinha um grande projeto de emancipação para a humanidade. O marxismo, no entanto, tem sido alvo de muitas críticas que põem em dúvida tanto os seus pressupostos como as tentativas no século XX de levar este projeto a termo. O marxismo tem sido acusado de intolerância com as diferenças e, mais grave que isso, de totalitarismo. Tudo em nome de uma certa concepção de história que garantiria, ao final, a emancipação (salvação) da humanidade. Popper, Heidegger e Foucault são alguns dos seus mais veementes opositores. Quais seriam, então, os fundamentos da história marxista, que seus opositores acusam de já conter em germe as sementes do totalitarismo e da intolerância com as diferenças?”
Filosofia Cristã:
Pode ser considerado como “Filosofia cristã” o conjunto de ideias filosóficas iniciadas pelos seguidores de Jesus Cristo do século II até aos dias de hoje. A tríade, Razão, Ciência e Fé é o principal combustível que mantém acesa esta chama.

Assim a discussão filosófica cristã surge com o intuito de distinguir “ciência” e “fé”, partindo dos princípios que a “razão” pode entender e aceitar, sem afastar-se das verdades da revelação cristã. Vários pensadores acreditavam que havia uma relação harmoniosa entre a ciência e a fé, outros afirmavam que havia contradição e outros tentavam diferençá-las. Esta mesma discussão era promovida no campo da filosofia e da fé. Diversos filósofos relacionavam o pensamento grego com o pensamento cristão.

A “Filosofia” costuma unir-se às vezes com a ciência para chegar a certas conclusões, enquanto que, outras vezes, os sistemas filosóficos especulativos e suas conclusões são opostos à ciência e suas descobertas. Assim ela se torna um instrumento de trabalho precioso que serve para levar os homens a repensar suas conclusões. Para o filósofo não pode haver paixão por uma verdade afirmada tanto pela ciência como pela religião. Daí a grande dificuldade do religioso conviver declaradamente com a filosofia, pois ele na sua função profética é sempre um apaixonado pela verdade que defende. Contudo ele se vê obrigado a filosofar para convencer o noviço de sua verdade. Acaba acontecendo um processo educativo progressivo que faz com que o religioso (teólogo) acabe encontrando o caminho da conciliação entre a filosofia, a ciência e a sua fé. A filosofia é, portanto, o caminho natural para que o homem possa alcançar o conhecimento e alimentar uma fé que sabe provar a sua razão.

A filosofia cristã não foi algo instituído em um momento histórico. Ela surge por volta do século dois do cristianismo, reportando-se ao sexto século antes de Cristo a partir do pensamento de Sócrates, Platão e Aristóteles. Em sua época, esses homens tentaram resolver os problemas da realidade e do conhecimento, assim como outros conceitos básicos, sem beneficiar-se do que conhecemos hoje em dia como revelação divina. Quando, porém, surgiu o cristianismo no mundo, este não aceitou o raciocínio humano especulativo como tal (Ver Colossenses 2.8), apelando para a autoridade da revelação divina como supremo recurso para responder aos problemas fundamentais do ser humano (confere ainda Romanos 10.17: 2 João 9.11 e Mateus 7.21-27). Contudo com o passar do tempo os pensadores cristão reconheceram em Paulo um filósofo e concordaram que a discussão filosófica permitiria a interpretação e o progresso da revelação divina que segundo o próprio Cristo não se encerrava com Ele (Confere João 14.26). Iniciou-se então um novo período onde a filosofia, agora adaptada à mensagem evangélica encontra o seu espaço no Cristianismo, dando início ao que entendemos como “Filosofia Cristã”.

Há estudiosos que questionam a existência de uma filosofia cristã propriamente dita. Esses afirmam que não há originalidade no pensamento cristão e seus conceitos e ideias são herdadas da filosofia grega. Sendo assim, a filosofia cristã seria simples depositária do pensamento filosófico, que já estaria definitivamente elaborado pela filosofia grega, e defensora da fé. No entanto, Boehner e Gilson afirmam que a filosofia cristã não é simples repetição da filosofia antiga, embora que devam à ciência grega os conhecimentos elaborados por Platão, Aristóteles e os Neo-platônicos. Chegam a afirmar que na filosofia cristã a cultura grega sobrevive em forma orgânica. Os mestres gregos se tornam assim os pedagogos dos pensadores cristãos.

Para alguns autores a Filosofia Cristã pode ser assim dividida:

"I. A filosofia medieval, em gestação: a Patrística (séc. II-VII).
II. A filosofia medieval, no período da constituição e de maior riqueza conceitual: a Escolástica (séc. IX-XIII).
III. A filosofia medieval em processo de mutação e superação: os Pré-modernos (séc. XIV-XV).
IV. A filosofia Cristã na Reforma e Contra Reforma. (séc. XVI-XVIII).
V. A Filosofia Cristã na Pós-Modernidade. (séc. XIX-XXI).

Conclusão:

“A fé cristã implica na aceitação básica de uma revelação divina, cuja validade – se for segura – deve poder resistir a todos os desafios da investigação erudita.” (J. D. Thomas – Razão, Ciência e Fé – Vida Cristã – 1984- pag. 18).

“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós,” (1 Pedro 3.15).

“Mas do que nunca urge uma proposta em forma de resposta apologética por parte da Igreja. Uma que utilize de ferramentais teóricos e eficazes de séculos passados, mas que não se restrinja àqueles. Uma resposta sob os parâmetros da pós-modernidade, mesmo que demonstre filosófica e teologicamente o quão absurdos são tais parâmetros, como referenciais. Uma resposta que se preocupe em não ser contraditória, como é a pós-modernidade; que não seja excessivamente filosófica, mas que resgate o valor de um empreendimento que se dedique a aliar nosso desejo e certeza de que a Bíblia é a Revelação de Deus e contém as respostas adequadas às dúvidas mais profundas e sinceras dos corações dos homens, com uma crítica bem feita àquelas que viraram marcas registradas do pensamento atual: a “certeza” de que ninguém tem certeza de nada, a defesa de um pluralismo relativista que talvez seja a única esperança de paz...” (Artur Eduardo da Silva Neto – Pastor e Professor de Apologética Cristã, Introdução à Filosofia e História da Filosofia).
Ao discutirmos verdades filosófica com alguém, deveríamos ter em conta as pressuposições particulares que a pessoa em questão sustenta em relação à fonte dos valores essenciais. Qualquer contraste de opiniões deveria estabelecer primeiro os pontos de acordo mútuos para que a discussão possa ser feita unicamente em relação aos pontos de desacordo, claramente definidos.

Segundo vimos acima todos aceitam “a priori” certo conhecimento ou pressuposições, assim como todos têm e se valem de um elemento de “fé”. Tanto por cortesia como por lógica, admite-se que todo ser humano tem o direito de formular suas próprias opiniões, seja o homem que tem fé no sobrenatural, ou aquele que acredita que suas conclusões são unicamente ditadas por fatos empíricos.

O cristianismo surge como religião fundamentada em fatos históricos que envolvem Jesus de Nazaré e um pequeno grupo de galileus. Coube a estes o anúncio do aparecimento do Messias esperado pelos profetas do antigo testamento.

A filosofia procura interpretar racionalmente os fenômenos do mundo. Como religião, houve necessidade do cristianismo defrontar-se com a filosofia helênica por causa da posição religiosa dos gregos. As especulações gregas são questionadas tanto como fundamento da verdade absoluta dada pela revelação e a cura pela fé e pela graça.

Apesar de todas as polêmicas devemos concluir que a filosofia é, sem dúvida, um instrumento muito eficaz para o aprofundamento da fé, que se dá pelo conhecimento que vem pela educação que segundo Licurgo: “não se constitui em mero estabelecimento de informações, mas sim de se trabalhar as potencialidades interiores do ser, a fim de que floresçam à semelhança de bela e perfumada flor”. (P/AViS- 05/01/2010).

Observação: Estaremos em recesso a partir desta data. Voltaremos a postar textos nesta página a partir de 09/02/2010.

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