quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

18- Em Defesa da Filosofia. (I/II)

Introdução:
Conta-se que Licurgo foi convidado a proferir uma palestra a respeito de educação. Aceitou o convite, mas pediu, no entanto, o prazo de seis meses para se preparar.
O fato causou estranheza, pois todos sabiam que ele tinha capacidade e condições de falar a qualquer momento sobre o tema e, por isso mesmo, o haviam convidado. Transcorridos os seis meses, compareceu ele perante a assembléia em expectativa. Postou-se à tribuna e logo em seguida, entraram dois criados, cada qual portando duas gaiolas. Em cada uma havia um animal, sendo duas lebres e dois cães.
A um sinal previamente estabelecido, um dos criados abriu a porta de uma das gaiolas e a pequena lebre, branca, saiu a correr espantada. Logo em seguida, o outro criado abriu a gaiola em que estava o cão e este saiu em desabalada carreira ao encalço da lebre alcançou com destreza trucidando-a rapidamente.
A cena foi dantesca e chocou a todos. Uma grande admiração tomou conta da assembléia e os corações pareciam saltar do peito. Ninguém conseguia entender o que Licurgo desejava com tal agressão. Mesmo assim, ele nada falou. Tornou a repetir o sinal convencionado e a outra lebre foi libertada. A seguir, o outro cão.
O povo mal continha a respiração. Alguns mais sensíveis levaram as mãos aos olhos para não ver a reprise da morte bárbara do indefeso animalzinho que corria e saltava pelo palco.
No primeiro instante, o cão investiu contra a lebre. Contudo, em vez de abocanhá-la deu-lhe com a pata e ela caiu. Logo se ergueu e se pôs a brincar. Para surpresa de todos, os dois ficaram a demonstrar tranqüila convivência, saltitando de um lado a outro do palco.
Então, e somente então, Licurgo falou; "senhores, acabais de assistir a uma demonstração do que pode a educação. Ambas as lebres são filhas da mesma matriz, foram alimentadas igualmente e receberam os mesmos cuidados. Assim igualmente os cães". A diferença entre os primeiros e os segundos é, simplesmente, a educação."
E prosseguiu vivamente o seu discurso dizendo das excelências do processo educativo.
"A educação, baseada numa concepção exata da vida, transformaria a face do mundo."
Eduquemos nossos filhos, "esclareçamos sua inteligência, mas, antes de tudo, falemos ao seu coração, ensinemos a ele a despojar-se das suas imperfeições. Lembremo-nos de que a sabedoria por excelência consiste em nos tornarmos melhores."
Percebe-se, portanto, que a educação não se constitui em mero estabelecimento de informações, mas sim de se trabalhar as potencialidades interiores do ser, a fim de que possam florescer, à semelhança de bela e perfumada flor.
Filosofia:
Filosofia (do grego Φιλοσοφία: philos - que ama + sophia - sabedoria, « que ama a sabedoria ») é a investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao mundo e ao homem.
O termo “Filosofia” foi consagrado ou adotado nos séculos VII-VI a.C. nas cidades gregas situadas na Ásia Menor. Começa por ser uma interpretação des-sacralizada das tradições cosmogônicas (por nós chamadas de mitos ou era lendária) difundidas pelas religiões daquele tempo. Não questionaram apenas os mitos gregos, mas todos mitos de todas as religiões que influenciavam a Ásia menor.


Os mitos foram, segundo Platão e Aristóteles, o ponto de partida para a reflexão dos filósofos. Eles consideravam num campo comum a religião e a filosofia, revelando que a pretensa separação entre esses dois modos do homem interpretar a realidade não é tão nítida como aparentemente se julga.

Entre os povos que desenvolveram escritas fonéticas ou ideogramáticas, as principais tradições filosóficas são a filosofia indiana, a filosofia chinesa e a filosofia ocidental (ou greca-romana).

É provável que povos que não desenvolveram tais tipos de escrita também tivessem algum tipo de tradição filosófica. O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro afirma que encontramos pontos de vista semelhantes entre os ameríndios desde a Terra do Fogo até o Alasca, por exemplo. (Perspectivismo e multinaturalismo na América Indígena – São Paulo – Cosac & Naify, 2002).


Mas é a partir do pensar grego que a filosofia vai se tornando em uma disciplina, ou a área de estudos, que envolve a investigação, a argumentação, a análise, discussão, formação e reflexão das ideias sobre o mundo, o homem e o ser. Originou-se da inquietude gerada pela curiosidade em compreender e questionar os valores e as interpretações aceitas sobre a realidade dadas pelo senso comum e pela tradição.

As interpretações comumente aceitas pelo homem constituem inicialmente o embasamento de todo o conhecimento. Essas interpretações foram adquiridas, enriquecidas e repassadas de geração em geração. Ocorreram inicialmente através da observação dos fenômenos naturais e sofreram influência das relações humanas estabelecidas até a formação da sociedade. Isso ocorreu em conformidade com os padrões de comportamentos éticos ou morais tidos como aceitáveis em determinada época por um determinado grupo ou determinada relação humana.

A Maiêutica Socrática é o momento do "parto" intelectual, da procura da verdade no interior do Homem. Sócrates conduzia este parto em dois momentos: No primeiro, ele levava os seus discípulos ou interlocutores a duvidar de seu próprio conhecimento a respeito de um determinado assunto (base niilística); no segundo, Sócrates os levava a conceber, de si mesmos, uma nova idéia, uma nova opinião sobre o assunto em questão (o que os niilistas não têm conseguido até os dias de hoje). Através de questões simples, inseridas dentro de um contexto determinado, a Maiêutica dá à luz ideias complexas.
A auto-reflexão, expressa no nosce te ipsum - "conhece-te a ti mesmo" - põe o Homem na procura das verdades universais que são o caminho para a prática do bem e da virtude.
A Maiêutica, criada por Sócrates no século IV a.C., tem seu nome inspirado na profissão de sua mãe, que era parteira.

Sócrates pretendia preparar uma juventude pensante na Grécia na certeza de que por este caminho seria possível criar uma sociedade virtuosa. Na verdade este objetivo foi em parte alcançado, pois em Atenas formou-se a primeira comunidade constituída de homens capazes de dar respostas as grandes questões da vida e que ainda hoje servem de inspiração para o mundo pensante.
Jesus com suas parábolas tentava fazer o mesmo. Falava de um reino que não era deste mundo e que apesar de conflitantes não poderiam viver isolados. Falava de uma verdade que era libertadora e que teria de ser achada dentro de cada um de nós e projetada para o exterior na direção do próximo. É o bom samaritano que sem se descuidar dos seus afazeres deu proteção ao homem caído e ferido à beira da estrada. A verdade libertadora nos desafia a aceitação do outro numa atitude amorosa sem o questionamento de quem é ou se tem culpa, mas considerando exclusivamente a sua necessidade situacional. Jesus ensinou isto há dois mil anos, os cristãos tem repetido com palavras, mas raramente alguém consegue atender ao apelo de: “Sede meus imitadores”. Até porque o simples imitar não alcançaria a verdadeira intenção de Jesus que era a de que cada homem assimilasse suas palavras de tal forma que elas se transformassem em vida (ou rios) no seu interior. Essa entrega não pode ser apenas uma carga ou uma obrigação legal, mas uma atitude voluntária, cheia de prazer, nascida no mais interior da alma humana. (P/AViS- 29/12/2009).

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