terça-feira, 30 de março de 2010

22- Os primeiros Conceitos de Ética.

Introdução.

Podemos dizer que ética é a ciência do ethos, atendendo à derivação etimológica do termo ética e à evolução que o levou a substantivar-se nas línguas modernas para designar um tipo específico de saber formalmente definido e integrado no corpo epistemológico e didático, seja das Ciências Humanas ou da Filosofia.
Mesmo com uma linguagem bastante simples será difícil formular e justificar uma definição real da Ética em sua versão propriamente filosófica, até porque, historicamente, foi na filosofia que, originariamente, se constituiu a ciência do ethos, portanto, ainda é a única forma adequada que nos permite pensar os fundamentos racionais dessa ciência.
A Ética, no entanto, tem por objeto o ethos que se apresenta como um fenômeno histórico-cultural dotado de evidência imediata e impondo-se à experiência do indivíduo tão logo este alcance a primeira idade da racionalidade, onde as ciências empíricas do ethos implicam a universalidade dessa experiência, traduzindo-se em paradigmas de linguagem e conduta e revelando-se em um dado antropológico incontestável.
De qualquer modo, já na antiguidade o confucionismo atingiu um pleno sucesso, tornando-se uma filosofia moral de profundo impacto na estrutura social e cotidiana da sociedade. O valor ao estudo, à disciplina, à ordem, à consciência política e ao trabalho são lemas que o confucionismo introjetou de maneira definitiva na vida da civilização chinesa da antiguidade aos dias de hoje. Note-se que, ao contrário do que muitos afirmam, o confucionismo não se trata de uma religião. Não possui um credo estabelecido, mas apenas determinações rituais de caráter social, que permitem a um adepto do confucionismo a liberdade de crença em qualquer tipo de sistema metafísico ou religioso que não vá contra as regras de respeito mútuo e etiqueta pessoal.
Mas, mesmo diante de variadas definições e conceitos sobre a ética, o homem tem demonstrado que não vive sozinho, pois, como ser humano, coexiste com seus hábitos, costumes, tradições, sonhos, trabalhos etc., dentro de uma ordem moral, onde os seus atos, desde que visem o bem, são tidos como éticos.
Logo, todos os atos humanos devem se alicerçar em atos éticos, com princípios que a fundamente para que possa exteriorizar o seu comportamento moral (moral efetiva) em um comportamento moral ético (moral reflexiva), que é absolutamente necessário para que a ética se sustente e melhore a convivência social.
É assim que a ética acaba se dando através de tantos pequenos e firmes costumes que são as vigas mestras internas para a ética, a moral, ou seja, os hábitos e as leis que governam nosso dia-a-dia em todos os sentidos e campo de atuação do homem.

O que é o “ethos”?
Ethos, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social.
A palavra ethos tem origem grega e significa valores, ética, hábitos e harmonia. É o "conjunto de hábitos e ações que visam o bem comum de determinada comunidade". Ainda mais especificamente, a palavra ethos significava para os gregos antigos a morada do homem, isto é, a natureza. Uma vez processada mediante a atividade humana sob a forma de cultura, faz com que a regularidade própria aos fenômenos naturais seja transposta para a dimensão dos costumes de uma determinada sociedade. Em lugar da ordenação observável no ciclo natural das coisas (as marés ou as fases da Lua, por exemplo), a cultura promove a sua própria ordenação ao estabelecer normas e regras de conduta que devem ser observadas por cada um de seus membros. Sendo assim, os gregos compreendiam que o homem habita o ethos enquanto a expressão normativa da sua própria natureza. Embora constitua uma criação humana, tal expressão normativa pode ser simplesmente observada, como no caso das ações por hábito, ou refletida a partir de um distanciamento consciente. Nesse caso, adentramos o terreno da ética enquanto discurso racional sobre o ethos.
O fenômeno ético é que irá nos oferecer um substrato empírico às categorias fundamentais da Ética. Por exemplo: a intenção da vida no bem e, conseqüentemente, o agir segundo o bem, do qual deriva a vida melhor ou mais feliz, para o agente ético e a excelência ou virtude de seu agir ou de ser, sendo que o bem deve ser realizado, embora não pela coação, mas pela persuasão, onde esses termos da tradicional moral grega implicam em seu conteúdo semântico o conceito fundamental de bem, eixo conceptual em torno do qual se construíram os grandes sistemas éticos da tradição ocidental.
O ethos é, assim, inseparavelmente, social e individual, é uma realidade sócio-histórica, mas só existe concretamente, na pratica dos indivíduos.
A fenomenologia apresenta-se como um método propedêutico à Ética. Assim, não podemos nos deter, apenas, em um método fenomenológico, ontológico, interiores, pois, este se constrói através de uma concepção filosófica cujo alcance transcende os limites da descrição fenomenológica.
Assim, torna-se inevitável o recurso a uma ontologia do sujeito ético em que se estudam os fenômenos interiores, já que o ethos tem uma estrutura dual, ou seja, sua dupla face: social e individual.
Escolas Filosóficas.
Para entendermos melhor o desenvolvimento das idéias e práticas éticas e morais é conveniente que conheçamos um pouco sobre o surgimento das principais correntes filosóficas.
Podemos sintetizar assim estas correntes ou escolas filosóficas:
a) Sofistas. Defendem o relativismo de todos os valores. Alguns sofistas, como Cálicles ou Trasimaco afirmam que o valor supremo de qualquer cidadão era atingir o prazer supremo. O máximo prazer pressupunha o domínio do poder político. Ora este só estava ao alcance dos mais fortes, corajosos e hábeis no uso da palavra. A maioria eram fracos ou inábeis, pelo que estavam condenados a serem dominados pelos mais fortes.
b) Sócrates (470-399 a.C). Defende o caráter eterno de certos valores como o Bem, Virtude, Justiça, Saber. O valor supremo da vida é atingir a perfeição e tudo deve ser feito em função deste ideal, o qual só pode ser obtido através do saber. Na vida privada ou na vida pública, todos tinham a obrigação de se aperfeiçoarem fazendo o Bem, sendo justos. O homem sábio só pode fazer o bem, sendo as injustiças próprias dos ignorantes (Intelectualismo Moral).
c) Platão (427-347 a.C.). Defende o valor supremo do Bem. O ideal que todos os homens livres deveriam tentar atingir. Para que isto acontecesse deveriam ser reunidas, pelo menos duas condições: 1º-. Os homens deviam viver apenas à luz da razão desprezando os instintos ou as paixões; 2º-. A sociedade devia de ser reorganizada, sendo o poder confiado aos sábios, de modo a evitar que as almas fossem corrompidas pela maioria, composta por homens ignorantes e dominados pelos instintos ou paixões.
d) Aristóteles (384-322 a.C.). Defende o valor supremo da felicidade.A finalidade de todo o homem é ser feliz. Para que isto aconteça é necessário que cada um siga a sua própria natureza, evite os excessos, seguindo sempre a via do "meio termo" (Justa Medida). Ninguém consegue, todavia ser feliz sozinho. Aristóteles, à semelhança de Platão coloca a questão da necessidade de reorganizar a sociedade de modo a proporcionar que cada um dos seus membros possa ser feliz na sua respectiva condição. Ética e política acabam sempre por estar unidas.
e) Epicuristas (Epicuro, Lucrécio ). O objetivo da vida do sábio é atingir máximo de prazer, mas para que isso seja possível ele deve apartar-se do mundo. Atingir a imperturbabilidade do espírito e a tranquilidade do corpo.
f) Cínicos (Antistenes, Diógenes ). O objetivo da vida do sábio é viver de acordo com a natureza. Afastando-se de tudo aquilo que provoca ilusões e sofrimentos: convenções sociais, preconceitos, usos e costumes sociais, etc. Cada um deve viver de forma simples e despojada.
g) Estóicos (Zenão de Cítio, Sêneca e Marco Aurélio). O homem é um simples elemento do Cosmos, cujas leis determinam o nosso destino. O sábio vive em harmonia com a natureza, cultiva o autodomínio, evitando as paixões e os desejos, em suma, tudo aquilo que pode provocar sofrimento.
h) Cépticos (Pirro, Sexto Empírio).Defendem que nada sabemos, pelo nada podemos afirmar com certeza. Face a esta posição de príncípio a felicidade só pode ser obtida través do alheamento do que se passa á nossa volta, cultivando o equilíbrio

O Pecado.
“Conta uma lenda que quando Deus fazia o homem, um de seus anjos mais chegados, observando as possibilidades e concessões que Deus fazia a este ser, perguntou ao Senhor: mas como, com esta liberdade toda e esta capacidade de decidir a sua própria vida, o homem poderá vir até mesmo a confrontar com o Senhor, se rebelar contra sua vontade e ainda assim ser restaurado. Nem o pobre do Lúcifer teve esta oportunidade! Como pode ser isto? O Senhor então respondeu: você não pode entender, mas este homem vai sofrer muito até chegar ao meu projeto final. Mas só com toda esta liberdade ele chegará um dia ao seu destino final, que é o de ser semelhante a mim. Por isto vou ensinar-lhe todas as minhas leis durante o tempo que for necessário e ele terá plena liberdade de escolha entre a obediência e a desobediência até que um dia desabrochará nele o varão perfeito e aí então ele será minha imagem e semelhança. Sem liberdade ele nunca passará de um anjo.” (P/AViS/Primavera de 1962).

Esta lenda serve para destacar a questão da obediência e da desobediência. A desobediência, segundo a teologia cristã dá origem a um estado chamado de pecado. O homem foi feito com a possibilidade de pecar; assim os vícios e as virtudes são próprias do homem. Ele pode decidir entre um ou outro. Só que estes atos têm conseqüências e a elas não cabe escolha por parte do homem.

Como vimos na introdução o ethos tem uma estrutura dual, ou seja, dupla face: social e individual. Assim são os vícios e as virtudes. Os vícios geram pecados individuais e coletivos; as virtudes geram santidade individual e coletiva. Assim o Criador nos fez ligados e irremediavelmente cúmplices no que fazemos de bem ou mal. Para Ele não importa se a bênção ou a maldição irão atingir a um indivíduo, a uma família, a uma nação ou ao mundo inteiro, pois para ele o homem é responsável pelos seus atos diante da sua própria consciência e da comunidade com conseqüências que fogem ao seu controle e que atinge a todos sem discriminação. O anjo da lenda não podia entender esta justiça assim como grande parte da humanidade, ainda hoje não pode entender. Mais nisto os homens foram colocados na posição dos anjos, não podem e não tem competência para discutir e nem fugir. Esta é a justiça do criador.




As Consequências do Pecado.
O anjo não podia entender as conseqüências do pecado e nem o próprio pecado, até porque ele não pode pecar, isto é, o pecado não faz parte da natureza dos anjos. Só Deus e o homem podem entender do pecado, Deus porque conhece todas as coisas e o homem porque pela desobediência foi feito pecador (Romanos 5.19).
A Bíblia trata dessas consequências.
a) Isaías 3:11 afirma: "Ai do perverso! Mal lhe irá; porque a sua paga será o que as suas próprias mãos fizeram". A primeira coisa que ocorreu com Adão e Eva é que os seus olhos foram abertos e souberam que estavam nus (Gênesis 3:7). Viram em seus corpos o potencial para o mal. A carne e o espírito lutariam pela supremacia no seu interior e essa guerra mataria cada vida humana (Gálatas 5:17).

b) Culpados e envergonhados, usaram folhas de figueira para cobrir a sua nudez um do outro (Gênesis 3:7). Também, se esconderam entre as árvores da presença de Deus (Gênesis 3:8). A presença do Senhor dos exércitos sempre traz terror aos pecadores: eles "se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono, e da ira do Cordeiro" (Apocalipse 6:15-17). Almas impenitentes, atenção: "Horrível cousa é cair nas mãos do Deus vivo" (Hebreus10:31).

c) Sendo afastados da presença de Deus, Adão e Eva, naquele dia, morreram espiritualmente. Pensem em tudo o que eles perderam! Eva tinha dito no coração: "Vou me fazer como o Altíssimo". Agindo assim, ela perdeu o direito ao esplendor do Paraíso. Decretaram-se maldições sobre ela (3:16), e sobre o homem (3:17-19). Ah, como caíram os valentes!

d) Sofrendo a morte espiritual, Adão e Eva também iniciaram o processo de morte física: "E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gênesis 3:24). Por causa do pecado deles, o homem, a mulher e os filhos de todas as épocas voltariam ao pó: "Em Adão, todos morrem" (1 Coríntios 15:22).

e) Jesus visualizou muito bem estas conseqüências e seu resultado final ao falar do final dos tempos. (Confira Mateus 24.6-7; Marcos 13.7-8, 12; Lucas 21.20-24).



Conclusão.

A coesão social e a liberdade individual, como a religião e a ciência, acham-se num estado de conflito ou difícil compromisso durante todo este período. Na Grécia, a coesão social era assegurada pela lealdade à Cidade-Estado; o próprio Aristóteles, embora em sua época, Alexandre estivesse tornando obsoleto a Cidade-Estado, não conseguia ver mérito algum em qualquer outro tipo de comunidade. Variava grandemente o grau em que a liberdade individual cedia ante seus deveres para com a Cidade. Em Esparta, o indivíduo tinha tão pouca liberdade como na Alemanha ou na Rússia modernas; em Atenas, apesar de perseguições ocasionais, os cidadãos desfrutaram, em seu melhor período, de extraordinária liberdade quanto a restrições impostas pelo Estado.
0 pensamento grego, até Aristóteles, é dominado por uma devoção religiosa e patriótica à Cidade; seus sistemas éticos são adaptados às vidas dos cidadãos e contêm grande elemento político. Quando os gregos se submeteram, primeiro aos macedônios e depois aos romanos, as concepções válidas em seus dias de independência não eram mais aplicáveis. Isto produziu, por um lado, uma perda de vigor devido ao rompimento com as tradições e, por outro lado, uma ética mais individual e menos social.
Os estóicos consideravam a vida virtuosa mais como uma relação da alma com Deus do que como uma relação do cidadão com o Estado. Prepararam dessa forma, o caminho para o Cristianismo, que como o estoicismo, era originalmente apolítico, já que durante os seus três primeiros séculos seus adeptos não tinham influência no governo.
A coesão social, durante os seis séculos e meio que vão de Alexandre a Constantino, foi assegurada não pela filosofia nem pelas antigas fidelidades, mas pela força - primeiro a força dos exércitos e depois a da administração civil. Os exércitos romanos, as estradas romanas, a lei romana e os funcionários romanos, primeiro criaram e depois preservaram um poderoso Estado centralizado. Nada se pode atribuir à filosofia romana, já que esta não existia.
O Cristianismo popularizou uma idéia importante, já implícita nos ensinamentos dos estóicos, mas estranha ao espírito geral da antigüidade, isto é, a idéia de que o dever do homem para com Deus é mais imperativo do que o seu dever para com o Estado. A opinião de que "devemos obedecer mais a Deus que ao homem", como Sócrates e os Apóstolos afirmavam, sobreviveu à conversão de Constantino, porque os primeiros cristãos eram arianos ou se sentiam inclinados para o arianismo. Quando os imperadores se tornaram ortodoxos, foi ela suspensa temporariamente. Durante o Império Bizantino, permaneceu latente, bem como no Império Russo subseqüente, o qual derivou do Cristianismo de Constantinopla, mas no Ocidente, onde os imperadores católicos foram quase imediatamente substituídos (exceto em certas partes da Gália) por conquistadores bárbaros heréticos, a superioridade da lealdade religiosa sobre a lealdade política sobreviveu e até certo ponto persiste ainda hoje.
Apesar do que vimos estamos atualmente, vivenciando um período de reconhecida dicotomia entre a forma originária da própria filosofia e, conseqüentemente, da ética, constituindo a ciência do ethos e o mundo atual em que a Filosofia e seus fundamentos perderam o espaço do saber, da razão, para um espaço do mecanicismo predominante no século XX.
Mesmo diante de variadas definições e conceitos sobre a ética, o homem tem demonstrado que não vive sozinho, pois, como ser humano, coexiste com seus hábitos, costumes, tradições, sonhos e trabalhos dentro de uma ordem moral onde os seus atos, desde que visem o bem, são tidos como éticos.
Logo, todos os atos humanos devem se alicerçar em atos éticos, com princípios que os fundamente para que possa exteriorizar o seu comportamento moral (moral efetiva) em um comportamento moral ético (moral reflexiva), que é absolutamente necessário para que a ética se sustente e melhore a convivência social.
É assim que a ética acaba se dando através de tantos pequenos e firmes costumes que são as vigas mestras internas para a ética, a moral, ou seja, os hábitos e as leis que governam nosso dia-a-dia em todos os sentidos e campos de atuação do homem.
Mas, atualmente, a palavra moral é considerada normalmente sinônimo de ética. Todavia, analisando com mais atenção, podemos fazer uma distinção muito útil, sobretudo, para tempos críticos como este que estamos passando, onde a ética e a moral servem de forma de ação.
Que o Criador permita que possamos entender que a verdadeira ética precisa ter o aval do seu Filho, Jesus, que nos ensinou que no amor, na solidariedade, na verdade e na liberdade está a síntese de toda a Lei e dos Profetas. (P/AViS-30/03/2010).

2 comentários:

  1. Olá amado!
    Grata pela visita e participação no INSIGHT, suas palavras foram edificantes e muito incentivadoras pra mim. Que Deus continue te abeçoando e inspirando para escrever mensagens do Seu coração para nós. Quanto ao artigo que escreveu, esperarei ansiosa para ler e aprender um pouco mais.
    Grande abraço, fk na paz!
    De alguém que estará sempre a sua disposição no reino!

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  2. alfredo escreveu:
    Querida Eliane, agradeço suas considerações. Geralmente um posto meus artigos na terça feira no alfredopam.blogspot.com
    Vai ser uma satisfação tê-la como uma ledora dos meus artigos.
    Fique na paz do Senhor.
    Um abraço. - 18/04/2010.

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