terça-feira, 6 de abril de 2010

23- A Ética dos Relacionamentos.

Introdução.

O homem é movido pela inteligência, que faz com que ele vislumbre muitas possibilidades diante dos problemas que lhe são apresentados pela vida. A inteligência é a marca de Deus em toda a sua criatura. Todo ser criado, gerado ou existente possui determinado nível de inteligência. Através dela cada ser tem consciência de seu objetivo e se prima por cumpri-lo com a maior eficiência possível. Coube ao homem o mais alto nível dessa inteligência e assim ele consciente de seu objetivo final se esforça para alcançá-lo, ou seja, “o de ser imagem e semelhança do seu criador”. Até mesmo o ateu se esmera para fazer o bem e desenvolver uma consciência coerente no uso dos recursos disponíveis no seu tempo e no seu “habitat”. Mesmo ele confessando uma total incredulidade a respeito do criador, negando-lhe um nome ou uma fé, ainda assim ele tudo faz para se tornar semelhante a ele, pois esta é a marca que através da inteligência o Criador incutiu em sua natureza.

Nem sempre a verdade é única como alguns pensam, assim como também existem muitas soluções para um mesmo problema. Mas, pela sua própria natureza, o homem possui uma inteligência prática, que vai se formando no decorrer da vida, acumulando o que chamamos de experiência. Assim, a inteligência prática é a potência humana que atua no campo específico da moral. Trata-se de um campo prático, o agir. A ética cuida da atuação ou conduta do homem, daquilo que o homem quer fazer e faz. O homem no uso da sua inteligência prática, prepara suas ações, pratica e sabe com a mesma inteligência prática, se fez o bem ou fez o mal. A isso chamamos de consciência. O problema é que nem sempre a consciência individual é a mesma consciência coletiva. Por isso o homem não pode ser o seu próprio juiz, havendo necessidade de uma lei moral que defina para o grupo o permissível e o não permissível. Assim a consciência moral é uma das determinantes fundamentais do relacionamento do homem em todos os níveis. É essa consciência que vai fazer com que uma pessoa saiba respeitar, não só as outras pessoas, mas também os animais, os rios, os jardins e o ar que respiramos. É ela que vai determinar a responsabilidade profissional de um médico, de um sacerdote, de um gari e até mesmo de um mendigo que pede esmolas pelas ruas de casa em casa. A consciência moral, assim como a inteligência prática, é de pleno acesso a todo ser humano.

A Busca de Novos Paradigmas.

Neste breve estudo, tomamos o termo “paradigmas” no sentido de padrão, modelo ou protótipo. Vivemos numa época em que o homem busca ansioso novos paradigmas para explicar e normatizar as novas verdades e situações que surgem a todo instante com o desenvolvimento tecnológico e social.

Assim, o lícito e o ilícito, o vício e as virtudes se tornam cada vez mais difusos e etéreos dentro de uma sociedade cujos princípios morais se encontram em constante avaliação e revisão.

A ética tradicional contribui para fixação de novos princípios que venham facilitar o relacionamento entre as pessoas e os grupos de pessoas.

Quando falamos em novos paradigmas, estamos tentando novas abordagens que vão além do mero Ser humano (pessoas e grupos) e atingir novos horizontes tais como a ecologia, a política, a biologia, enfim, todos os segmentos científicos e sociais pelos quais o nosso planeta é atingido.

A seguir apresentamos algumas definições e considerações de diferentes autores sobre o significado da palavra Moral. Vale destacar que alguns a igualam a Ética, mas o importante é saber que atualmente ambas têm significados e usos diferentes entre si.
A palavra Moral tem origem no latim - morus - significando os usos e costumes.
Moral é o conjunto das normas para o agir específico ou concreto. A Moral está contida nos códigos, que tendem a regulamentar o agir das pessoas.

Segundo Augusto Comte (1798-1857), "a Moral consiste em fazer prevalecer os instintos simpáticos sobre os impulsos egoístas." Entende-se por instintos simpáticos aqueles que aproximam o indivíduo dos outros.
Para Piaget, toda Moral é um sistema de regras e a essência de toda a moralidade consiste no respeito que o indivíduo sente por tais regras.
Eu sei o que é moral apenas quando eu me sinto bem ao fazê-lo e o que é imoral é quando eu me sinto mal.
Abrangências da Ética:

Podemos entender a abrangência da ética em três abordagens distintas:
a) Ética Normativa;
b) Ética Teleológica;
c) Ética Situacional.

Ética Normativa – é a ética moral que se baseia em princípios sábios e regras coerentes e fixas, atingindo o homem integral (corpo, espírito e alma), as atividades profissionais, religiosas e científicas.

Ética Teleológica – ética imoral – baseia-se na especulação imediata dos fins e dos meios disponíveis. Não importa os meios, o importante é o fim. Interpretação das estruturas ou normas em termos das conveniências imediatas (utilitarismo), exacerbação da utilidade.

Ética situacional – ética amoral – baseia-se nas circunstâncias por mais irracionais que sejam. É uma reação irracional baseada no “tudo vale”, diante de fatos ou momentos previsíveis ou não (torcida no campo de futebol).

Costuma-se dizer que a ética é algo que todos sabem, mas que não é fácil de explicar. Isto ocorre justamente porque ela está muitas vezes na dependência de fatos e sentimentos abstratos.
Ela deve ser considerada a partir de algumas dicotomias, tais como: (Maniqueísmo):

- A verdade e a mentira;
- O bem e o mal;
- O amor e o ódio;
- A recompensa e a cobrança;
- O crédito e o débito;
- O moral e o imoral;
- O positivo e o negativo;
- As trevas e a luz;
- O céu e o inferno;
- O direito e o dever e muitas outras.

A sua aplicação é infinita, principalmente quando nos dispomos a considerar novos paradigmas, isto é, novas formas, novos modelos, o que significa possibilidades de mudanças. As mudanças são traumáticas e exigem cautelas.

Diversos Relacionamentos.

Nesta oportunidade somos desafiados a cogitar sobre a ética em diversos relacionamentos:

a) Relacionamento consigo mesmo;
b) Relacionamento com o Sagrado
c) Relacionamento com o meio Ambiente;
d) Relacionamento com o Outro.
e) Relacionamento com o Poder.


As Instituições Religiosas, de um modo geral, pelas suas tradições milenares e seus rituais, facilitam a prática da ética. As questões que surgem são em regra geral de ordem comportamental de seus membros que às vezes não observam suas leis e costumes.


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Conclusão.

“A ciência e a religião não estão em conflito, pois seus ensinamentos ocupam domínios completamente distintos. Eu acredito, de todo coração, em um pacto respeitoso, até mesmo amoroso no futuro..."
Bem, o que são esses dois domínios completamente distintos, esses "Magistérios Não-sobrepostos" que deveriam se abraçar em um pacto respeitoso e amoroso?
"A área da ciência cobre o universo empírico, analisando o de que é feito (fato) e porque ele funciona dessa maneira (teoria), tentando tirar o homem da ignorância das leis que governam a matéria da qual ele próprio e todas as coisas que o envolvem e se mostram visíveis são feitas (materialismo). A área da religião se estende sobre questões de valor moral e espiritual, buscando convencer a criatura da necessidade de se religar ao seu criador (espiritualismo)”.
De um modo geral, todos reconhecem que a religião tem conhecimentos especiais a oferecer em questões morais nestes dias tão contraditórios e “niilistas”. Até os não-religiosos aceitam essa afirmação sem questionar, provavelmente fazendo das tripas coração para admitir esta verdade.
A pergunta "O que é certo e o que é errado?" é uma pergunta genuinamente difícil que a ciência certamente não pode responder. Dada a premissa moral ou a crença moral a priori, a disciplina importante e rigorosa da filosofia moral secular pode perseguir modos de raciocínio científicos e lógicos para apontar implicações escondidas de tais crenças e inconsistências escondidas entre elas. Mas as premissas de moral absoluta devem vir de outro lugar, presumivelmente de convicção não discutida. Ou, pode ser esperado, da religião - significando alguma combinação de autoridade, revelação, tradição e escritura.
Infelizmente, a esperança de que a religião pode prover um alicerce, de onde nossa moral, outrora baseada em areia pode ser derivada, é uma coisa vã. Na prática, nenhuma pessoa civilizada quer usar uma escritura como autoridade suprema e muito menos uma instituição cuja história não é fiel às aspirações de seu fundador, Jesus Cristo. Aqui estamos enfatizando as incoerências entre a prática cristânica e os ensinamentos de seu fundador, porém o princípio se aplica a todas as grandes religiões existentes em nossos dias. Por isso estamos cada vez mais convencidos de que os nossos relacionamentos precisam ser revistos com urgência. Caso contrário, o terceiro milênio trará para a humanidade uma ética forjada na tragédia, cujo custo em vidas e sangue será incalculável.
Que Deus dê aos grandes líderes deste século uma visão capaz de discernir que a paz do mundo, humanamente falando, só poderá ser resgatada através de um relacionamento cujos princípios estejam firmados no amor, na solidariedade, na verdade e na liberdade.(P/AViS- 06/04/2010).

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