sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Breves Reflexões 027/100

27- Aprendendo com o Urubu. (BR 322).

Quando criança, morava no campo e gostava de observar a natureza. Desde cedo, minha mãe me incentivou a plantar e colher alimentos e também flores. Eu admirava os pássaros soltos na natureza, cantando pela manhã, fazendo seus ninhos e criando seus filhotes. O meu pai gostava de aprisioná-los em gaiolas o que me aborrecia muito, pois o canto de um pássaro preso é sempre diferente de um pássaro solto. Muitas vezes, soltei os canários do meu pai sem que ele soubesse. O interessante é que um dos meus cinco* filhos também herdou este gosto e por diversas vezes eu repeti este gesto sem que ele soubesse. Mas havia um pássaro que eu nunca conseguia vê-lo de perto, muito menos conseguia ver seus ninhos e nem os de seu filhotes. Aquele pássaro era grande, arisco e só aparecia quando algum animal estava morto e entrava em decomposição. Um dia minha mãe me disse que aquele pássaro era o urubu, um pássaro feio e agoureiro.

A partir dali, comecei a observar este pássaro tão mal visto pelas pessoas. Com o tempo, passei a gostar dele e notei que afinal de contas ele não era tão feio assim. Ele era até simpático apesar do péssimo costume de comer carniça, o que dificultava apreciá-lo mais de perto. Certa vez, perguntei para o capataz da fazenda qual a sua opinião sobre o urubu. Então ele me disse que ele prestava um bom serviço, pois ele cuidava do campo, consumindo os animais mortos em decomposição e sinalizando muitas vezes os locais onde estes animais se encontravam.

Curioso, fiz-lhe diversas perguntas e ele me deu uma verdadeira aula ensinando-me tudo o que ele sabia deste pássaro. Tratava-se de um pássaro muito importante na preservação da natureza e até ensinava algumas lições muito interessantes. Por exemplo, levantava cedo e já saia para correr os campos à procura de alimento, tinha uma capacidade impressionante de observação. Mesmo voando muito alto, ele localizava os animais mortos entrando em decomposição. Ele era organizado e solidário. O espião, ao descobrir um animal deitado no campo, ia baixando o seu voo lentamente até chegar bem próximo. Pousava em alguma árvore ou então em uma cerca e ficava aguardando para verificar se o animal se movia. Depois de algum tempo, se o animal não se movesse, ele se aproximava e pousava próximo do animal e circulava algumas vezes em torno e finalmente subia sobre o corpo e só então bicava-lhe, de preferência, os olhos e se nada acontecia, então ele voava e ia comunicar aos companheiros. Mais tarde, voltava acompanhado do bando para consumir aquele corpo. O mais interessante era o ritual que eles realizavam em torno da carniça. Segundo ele, parecia que só depois do mais velho rasgar o couro (abrir o corpo) do animal é que os outros avançavam para se servir. Era o respeito pelo mais velho. Falou também da lenda do Urubu Rei, que ele nunca havia visto, mais que um amigo seu afirmava que ele existia e que ficava nos lugares mais altos e era protegido pelo bando.

O tempo passou e eu acabei me interessando pelos urubus e aprendi então que existem diversas espécies deles. Em Itajubá, um amigo e companheiro de caserna, veterinário por profissão, forneceu-me algumas informações muito importantes as quais registro à guiza de conhecimento sobre essa espécie.

“O mais famoso e mais conhecido entre nós é chamado “Urubu-de-cabeça-preta” da ordem “Cathartiformes”. O Urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) é uma ave Cathartiformes da família Cathartidae, pertencente ao grupo dos abutres do Novo Mundo. É uma das espécies do grupo mais frequentemente observada, devido ao fato de realizarem voos planados a grandes alturas, por serem consumidores de carcaças animais e por possuírem atividade durante todo o dia. O urubu-de-cabeça-preta como as outras espécies de urubus, possuem a cabeça depenada,sendo um pouco rugosa. Essa espécie possui uma boa visão e um olfato apurado, mas não tanto como seu parente mais próximo, o urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura), que localiza a carcaça três vezes mais rápido que essa espécie. Isto se deve ao fato de que a parte do seu cérebro que se encarrega do instinto olfático é cerca de três vezes maior do que a dos urubus-de-cabeça-preta. Eles fazem seus ninhos em terrenos longe da presença humana, junto do solo e nunca são feitos a mais de 50 cm. Os ovos, de cor cinza ou verde-pálida, são incubados por ambos os genitores durante 32 a 40 dias. Os juvenis eclodem com plumagem branca e são alimentados por regurgitação. Com o passar dos dias, os juvenis ganham uma cor branco-rosada e penas um pouco azuladas. O primeiro voo ocorre por volta das 10 a 11 semanas e com cerca de 3 meses já têm a plumagem de adulto. O urubu-de-cabeça-preta alimenta-se de carniças e frutas em decomposição como a pupunha. Este modo de alimentação necrófago confere-lhes importância ecológica, pois ajudam a eliminar carcaças do ecossistema”.
A maior lição que eu aprendi com os urubus foi a da “Solidariedade”. Quando o espião descobre e confirma a existência de uma carcaça, ele sai e vai chamar os seus amigos para compartilhar daquele repasto. E eles vão chegando em grande número e há alimento e lugar para todos participarem do banquete.
Eu fico então pensando em como nós, os humanos, agimos. Se descobrimos algo precioso, logo queremos tomar posse, se for de grande valor, vamos providenciar uma proteção para que outros não tirem proveito daquilo. Somos possessivos e egoístas e a pretexto de garantir nossos direitos lançamos mãos de todos recursos. Fincamos a nossa bandeira, determinamos os nossos limites e nos armamos para expulsar qualquer invasor.
Então, aquele pássaro, que a primeira vista nos parecia tão estranho, guiado pelos seus instintos naturais nos dá uma linda lição de solidariedade.
Para mim, ser solidário é se ocupar dos outros e respeitá-los. É também ajudá-los como se eles fossem membros de nossa família. Amá-los e ajudá-los sempre, não só materialmente, mas às vezes ouvi-lo, abraçá-lo e dizer: pode contar comigo, eu estarei com você sempre que precisar de mim. Ser solidário é, sobretudo, compartilhar com amor e alegria sempre que possível e chorar junto quando a dor chegar. (P/AViS-Primavera de 1969). * Eram cinco filhos naquele tempo, hoje são sete. O interessante é que nenhum deles desenvolveu o hábito de aprisionar os pássaros.

Que hoje seja um dia especial em sua vida.
Seu irmão e servo Ev. Alfredo Vieira

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Um comentário:

  1. Que lindo exemplo desse pássaro. Isso me ensina que tudo muda, quando mudamos o modo de ver as coisas. Esse é de fato um animal muito mal visto talvez por sua aparência, mas quando observamos sua atitude, nos dá uma grande lição. Acredito que o cristão nascido de novo, tem realmente essa disposição, repartir de graça o que de graça tem recebido. Deus abençoe sua vida. Fica na paz!

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