terça-feira, 27 de outubro de 2009

10- A Revisão

Nos textos anteriores deixamos algumas expressões e abordagens em suspense, isto é, sem o devido aprofundamento ou explicitude. Vamos a seguir pinçar algumas destas questões para explicitá-las melhor.
a) Falamos na ideia de uma ética mundial.
O que você pensa disto. Será possível alguém ou algum grupo específico ser reconhecido como capaz de ditar normas para todas as nações. Desde antiguidade muitos homens, tribos e nações tentaram isso sem sucesso. Será que com a globalização se tornará possível?

b) Falando sobre a morte de Deus, deixamos muitas questões em aberto.
Será que Deus precisa morrer para renascer nos corações? A humanidade mataria novamente Jesus Cristo, se ele voltasse anunciando o Reino de seu Pai (Reino de Deus)? Não seria conveniente para a consciência de uma espiritualidade mais coerente que Deus morresse e a humanidade desse início a uma nova reflexão sobre o seu Criador? Mas como Deus morreria, se para nós ele realmente não existe, sendo apenas uma confissão de fé feita pelos fiéis. Para a inteligência humana uma coisa só pode existir se tiver princípio, isto é, que tenha nascido ou sido criado. Deus não tem princípio e nem fim; este conceito inviabiliza a sua existência à luz da razão humana. Como convencer os homens da inerrância dos livros sagrados, quando eles apenas afirmam a existência de Deus sem nenhuma argumentação lógica para provar esta afirmação? São questões que incitam o pensamento dos homens mais cultos. Parece que estas questões precisam ser analisadas e respondidas pelos teólogos para que a religião possa sobreviver. Nesse caso a morte de Deus ganharia sentido e os religiosos estariam livres para rever seus dogmas e suas afirmações de fé. Parece que Jesus vislumbrou a necessidade desse tempo ao afirmar: “Quando, porém vier o Filho do Homem, porventura achará fé na terra?” (Lucas 18.8b).

c) Existem diversos argumentos para provar a existência de Deus. Aqui vamos dar um destaque especial sobre o argumento ontológico.
Em teologia e em filosofia da religião, um argumento ontológico para a existência de Deus é um argumento de que a existência de Deus pode ser provada a priori, isto é, bastando apenas a intuição e a razão, não sendo necessária, portanto, prova material, ou seja, a posteriori, porque sua comprovação material é a própria Criação.
Os seres, ou criaturas, são entendidos a posteriori como efeitos particulares, sensíveis e inteligíveis, de causas, que são efeitos de outras causas, e assim sucessivamente, até uma causa primeira, criadora, de todo o Ser.
Como coisa alguma pode ser causa de si mesma, um princípio criador fora do Ser tem de existir negativamente em relação a ele. Assim, o Ser (em grego, ontos), teologicamente entendido como a Criação, passa a ser, com Anselmo (Santo Anselmo ou Anselmo de Cantuária – filósofo medieval – criador da escolástica – 1033/1034 – 1109 – de origem normanda), a prova da existência de Deus, porque Deus é a causa do Ser.

d) Falamos muito em ideias e ideologias.
A história das ideias morais está estreitamente ligada a dos sistemas filosóficos, embora devamos admitir que umas e outros sejam independentes do desenvolvimento social, econômico e cultura geral, assim como da consciência religiosa. Na antiguidade, as éticas relacionadas com o platonismo, o estoicismo e o epicurismo são as mais conhecidas. Na Era Moderna, o sistema filosófico de Kant deu um grande destaque à ética do dever e da intencionalidade, enquanto vários filósofos ingleses e norte-americanos elaboraram éticas utilitaristas e pragmáticas. Mais recentemente o marxismo e o existencialismo introduziram uma concepção nova do homem com o consequente significado ético. Qualquer história da Filosofia permitirá traçar as linhas principais desse desenvolvimento. Em forma muito amena e acessível o faz o livro de Will Durant: La história de La Filosofia (Santiago do Chile, Letras Imp – 1937). Quem desejar aprofundar-se mais na história da Ética pode orientar-se a partir das seguintes obras: Lês grandes líneas de La filosofia moral de Jacques Leclercq (Madrid, Gregos); La ética moderna, de Teodor Litt (Madrid, Revista de Ocidente, 1932); La consciência moral, de H. Zbinden e outros (Madrid, Revistas do Ocidente, l961); a Internet oferece muito material de boa qualidade sobre o assunto.
A ética católica romana mais importante dos últimos anos é a de Bernhard Haring, La Ley de Cisto (Barcelona, Herder, 1958). Recentemente se discutiu muito a chamada ética situacional, que insiste em decisões éticas particulares, vinculadas às circunstâncias imediatas. Neste sentido a obra clássica é o livro de John Fletcher, Ética de situación (Barcelona, Ediciones Ariel, 1970).
Nos últimos anos, o Brasil através de seminários, simpósios e congressos tem produzido um bom material sobre a ética.

e) A questão do supra homem ou do novo homem.
Para alguns o termo pode ser novo, mas na realidade a Igreja do Novo Testamento já usava o termo, se referindo ao novo convertido. São Paulo já escrevia aos éfesos: “E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade”. (Efésios 4. 24). Os batizados, rituais de iniciações e outras solenidades de admissão, pretendem renovar o homem, entendendo-se que daquele momento em diante ele será um novo homem ou uma nova mulher.
A ideia de “novo homem” veio a ser tema de apaixonante atualidade em nosso continente. É sabido que Karl Marx (Karl Heinrich Marx, nascido em Tréveris em 5 de maio de 1818, faleceu em Londres em 14 de março de 1883 – fundador da doutrina comunista) havia falado de um “homem total” em contraposição ao “homem truncado” produzido pelas condições de existência de nosso sistema sócio-econômico. Este aspecto humanista do pensamento marxista tem sido muito influente em alguns movimentos latino-americanos. Guevara se referia frequentemente à criação de um “homem novo” na revolução cubana, chegando a afirmar: “a formação do homem novo” e o “desenvolvimento da técnica” são os dois principais pilares do programa revolucionário. O tema é frequentemente tratado também no Chile nos últimos anos. Por certo, uma simples coincidência verbal não basta para estabelecer uma relação. Mas nos obriga, pelo menos, a estudar o assunto com seriedade. Como primeira tentativa de fazê-lo, leia-se a obra do autor católico J. Gonzalez Ruiz, Marxismo Y cristianismo frente AL hombre nuevo (Madrid, Guadarrama, 1962). Também os livros do Jesuíta Ignácio Lepp (publicado por Editorial Lohlé) se referem ao assunto. Infelizmente não há em nosso idioma nenhuma obra adequada sobre o conceito de “novo homem” no Novo Testamento, como de início demonstramos que o termo já vem de lá.
(NB: Este texto foi trabalhado por nós na década de setenta, quando o seu enfoque era muito forte e atual. Hoje ele pode parecer fora de foco, mas fizemos questão de colocá-lo aqui por uma questão de informe cultural e histórico.)
Assim chegamos ao final da primeira parte de nossa proposta. Deixamos o nosso convite para a segunda parte, quando estaremos enfocando o homem como conseqüência de todo esse processo que acabamos de considerar. Vamos analisar a natureza do homem e sua adequação dentro das necessidades por ele criadas e as impostas em consequência dos diversos relacionamentos a que ele se viu obrigado em função de sua socialização.

Estaremos desenvolvendo mais dez textos, através dos quais refletiremos sobre os seguintes temas:

11- O homem não é obra do acaso.

12- O homem, por sua própria natureza e origem já é um vencedor;

13- Entender o homem como uma criação intencional de seu Criador.

14- O homem foi feito para ser solidário e não um mero competidor;

15- O lugar do sagrado na história do homem;

16- Religião, Filosofia e Ciência;

17- Em defesa da Religião;

18- Em defesa da Filosofia;

19- Em defesa da Ciência.

20- Revisão.

Fica aí o nosso desafio para os próximos encontros. Até lá. (P/AViS- 27/10/2009).

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