quinta-feira, 6 de maio de 2010

27- A Teologia da Graça.

Introdução:

“Se pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo.” (Romanos 5.17).

A Graça é parte integrante do “Plano Salvífico” de Deus. Ao homem foi dado liberdade plena para tomar suas decisões e ele tomou o caminho da desobediência. Com isso ofendeu o Criador a tal ponto de ser expulso do “Jardim do Edem” assim como Lúcifer foi expulso das “Regiões Celestiais”. Contudo o Criador não desistiu de sua criação, pois ele havia colocado neste planeta o que de mais sublime ele possuía, a vida.

Depois de várias tentativas, Deus tomou a decisão final que fazia tremer aos próprios anjos. Ele colocou em prática o seu “Plano Salvífico”, o que incluía entre outras coisas o envio de seu filho para salvar o homem através da Graça. Nem para os anjos decaídos foi posto um plano assim em execução. Assim depois de vários estágios e preparação Deus enviou Jesus Cristo, uma história que já alcançou mais de um terço da humanidade e que agora pela globalização deverá ser divulgado para todas as nações e raças num período muito curto para que se cumpra mais uma fase importante desse plano.

Não tem sido um plano fácil e nem barato. Para alguns, ele está sendo executado há alguns milhões de anos; para outros, os que observam as anotações sagradas dos judeus, dos muçulmanos e dos cristãos ele está em vigor há seis mil anos. De qualquer forma é um longo plano que visa salvar a vida que aqui um dia foi implantada e que por decisão do homem corre sério risco. Assim, já no terceiro estágio, Deus mandou seu filho e ele apagou a ofensa que o homem havia feito ao seu Criador e a humanidade entrou na era da Graça.

Mas o que é a Graça?

“Parece estranho ler algo sobre a Graça Consumatória, pois estamos acostumados a ler e ouvir, segundo João Wesley, a respeito da Graça Preveniente, Graça Justificadora e Graça Santificadora.

Geralmente ao falar-se em Graça Preveniente, a ligamos ao Pai. Quando nos referimos à Graça Justificadora nos centramos na pessoa de Jesus Cristo. Ao pensarmos na Perfeição Cristã ou Santificação, logo vem à nossa mente a pessoa do Espírito Santo.

O que seria Graça Consumatória?

É a Graça, através da Trindade, que faz possível à pessoa, à família e à Igreja levar avante a fé, a vida cristã, consumando-a na vida. É Graça que leva-nos avante à Consumação Final de todas as coisas em Deus.

Dependemos totalmente da Graça. Essa é uma mensagem bíblica e um fundamento do movimento Wesleyano. A vida cristã somente é possível pela graça. Não são as leis, a ética e a moral, as doutrinas ou a liturgia, nem mesmo a Igreja, como uma instituição, que faz possível vivenciar-se a fé cristã e sua consequente vida plena.
Temos tido muitas frustrações em nossa vivência cristã ao confiarmos em nosso ativismo, nos planejamentos e programas das igrejas, em nossas formas litúrgicas ou na ausência delas; em nosso esforço pessoal, familiar e social buscando vivenciar os princípios básicos de nossa fé e esperança.

Muitos, hoje, estão buscando uma “nova unção”, nova forma de revelação ou profecia, nova estruturação dinâmica da Igreja visando um crescimento acelerado. Muitas dessas coisas têm o seu lugar na vida cristã; outras são invenções de nossos tempos, de líderes que estão centralizando a fé no seu carisma pessoal ou comunitário. Há uma grande ênfase voltada para o Antigo Testamento, fundamentada isoladamente do seu contexto e de sua centralidade em Jesus Cristo.

Nada disso nos leva a uma vida plena centrada em Cristo. Quem leva à consumação da vida cristã, à missão da Igreja, ao propósito divino na vida da família, aos relacionamentos humanos em todas as suas áreas e níveis é a Graça Divina,que a chamamos de “Consumatória”.

Não adianta inventarmos ou reinventarmos a “roda”, “os modismos”, as “prosperidades”, as “dependências em líderes apostólicos modernos”. O centro básico de nossa Fé e Vida Cristã, pessoal e comunitária, é a Graça. Somente ela consuma em nós as “fiéis e verdadeiras promessas bíblicas e divinas”.
Vivendo sem a Graça estamos “caindo na des-Graça”, vivendo “sem-Graça”, criando um estado de individualismo na fé, de personalismo na Igreja, de egocentrismo em nossos fundamentos de fé.

Podemos usar a Bíblia à nossa maneira, citando-a fartamente, mas sem a Graça, ela se torna um “ídolo”, ”uma filosofia de vida”, “forma de pensar e viver”, um instrumento de apologia cristã sem contudo ser a VIDA PLENA que Deus em Cristo trouxe-nos ao se tornar ser humano, identificando-se conosco, vivendo a nossa fragilidade, tornando-se Servo Sofredor, assumindo a Cruz e a Morte.Contudo, a Graça divina tornou a trazê-Lo à vida, colocando-o acima de todo o nome, autoridade, poderes, potestades, enfermidade, dor, morte e mal.
Não há outro caminho – só há o caminho da Graça, onde Ele, Cristo, nos leva a Deus, o Caminho que traz Deus a nós, vive Deus em nós, entre nós e conosco e, através de nós.

O Deus da Graça anseia agir em nosso tempo “consumando em nossa História” a Sua presença Salvadora e Redentora. A Graça Consumatória está ativa através da ação da Trindade visando amar ao ser humano, a sociedade e a natureza, redimindo-os para Si.

É claro que a Graça é Graça, cuja natureza e fonte é divina e nós, para entendê-la, a dividimos em fases, ou etapas, como Wesley fez. Na verdade, somos chamados a “pela graça sermos salvos”, através da fé (nossa confiança, acolhimento, entrega a Cristo), santificados, vivendo no presente século de forma justa, sensata e piedosamente e a esperarmos a plenitude da concretização do Reino através da vinda do Senhor Jesus. Tudo o mais... é tentativa humana... é resto... e não provém de Deus, mas de “obras humanas”; não é fruto da fé, pois nos gloriamos naquilo que somos e fazemos.

Ainda bem que Deus é tudo em tudo e que dependemos da Graça para que a nossa glória esteja n’Ele e não em nós mesmos, nem em nenhuma instituição, revelação, profecia, sonho ou estruturação eclesial.
É na cruz e ressurreição que eu me glorio. Isso é Graça! Aleluia!” (Nelson Luiz Campos Leite – Bispo honorário da Igreja Metodista).

Graça e Saúde:

A Bíblia Sagrada (livro sagrado dos Cristãos que contém parte dos textos sagrados dos judeus e dos muçulmanos) tem anunciado a humanidade de forma sonante, clara e singular que, primeiramente e de uma forma única, foi incluída na tradição teológico-judaica-islâmica e que hoje é divulgada por muitos meios e formas, que Deus nos aceita como somos e onde estamos com o que podemos fazer sem distinção de raça ou nação. A todos sem exceção essa boa nova está sendo anunciada. São boas novas que nos garantem cura e integridade independente de nossas patologias. É a Graça Salvadora que está à nossa disposição para ser consumida e nos garantir a presença e a ação divina em nossa vida aqui, agora e na eternidade. Esta é a última e a única chance dada ao ser humano. Não importa a sua rebeldia, a sua crença, um dia todos os joelhos vão se dobrar diante do “Cristo Triunfante”.

Mas em suma, a Graça, consequência do amor e misericórdia do Criador assegura que o grande empreendimento de Deus é a cura humana e a vitória sobre a morte, tendo sido Cristo a “Primícia”, isto é o primeiro. Esta cura faz parte da natureza divina, assim como as patologias fazem parte do caráter e essência do homem. Com a cura do homem, toda a vida no planeta estará salva. Esta “Graça” é radical quanto a sua incisão ao “lócus” central da patologia humana; as preocupações excessivas alimentadas pelas ansiedades, que são a causa e o resultado da alienação humana e o mundo de doenças, violências e distorções múltiplas que derivam dessa alienação.
Uma avaliação correta dessa teologia e da suas implicações psicológias requer uma exploração da natureza problemática e patológica da situação humana a que a graça se refere, uma indicação de como a graça fala ao dilema humano e uma consolidade da base conceitual para chegar às consequências psicológicas. Desde que os homens, primeiro sentiram a natureza radical e genérica de sua queda espiritual e psicológica, a mais essencial e universal experiência humana tem sido a ansiedade. Por isto Jesus insistia no ensinamento da fé na provisão divina: “olhai os lírios do campo, como eles crescem: não trabalham nem fiam, mas nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer um deles.” (Mateus 6.28 e 29).

A dimensão do terror em nossa ansiedade é facilmente identificada, vai desde a nossa luta para lidar com a morte e nossa própria mortalidade até formas de ansiedade extrema que são identificadas como causadoras de patologias que clinicamente são chamadas de neuroses ou como aquilo que as produz.

Na tragédia de nossas ansiedades nos deparamos perdidos e alienados. Disto surgem as nossas distorções emocionais e nossas doenças psicológicas e espirituais. No entanto, da perspectiva Divina, nosso status se mantém. Somos incondicionalmente confirmados como destinados para a comunhão com Deus como uma forma palpável de vida e de salvação. O Evangelho assegura este status como certo e incondicional e Cristo nos promete o Espírito Santo, o Consolador, através do qual Ele sempre estará conosco.

Conclusão:

“Conta uma lenda que quando Deus fazia o homem, um de seus anjos mais chegados, observando as possibilidades e concessões que Deus fazia a este ser, perguntou ao Senhor: mas como, com esta liberdade toda e esta capacidade de decidir a sua própria vida, o homem poderá vir até mesmo a confrontar com o Senhor, se rebelar contra sua vontade e ainda assim ser restaurado. Nem o pobre do Lúcifer teve esta oportunidade! Como pode ser isto? O Senhor então respondeu: você não pode entender, mas este homem vai sofrer muito até chegar ao meu projeto final. Mas, só com toda esta liberdade, ele chegará um dia ao seu destino final, que é o de ser semelhante a mim. Por isto vou ensinar-lhe todas as minhas leis durante o tempo que for necessário e ele terá plena liberdade de escolha entre a obediência e a desobediência até que um dia desabrochará nele o varão perfeito e aí então ele será minha imagem e semelhança. Sem liberdade ele nunca passará de um anjo.” (P/AViS/Primavera de 1962).
“Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram. Da terra brota a verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar.” (Sl 85.10-11). Esta é a visão do Salmista: manter a tensão na busca de uma ética que inclua o sagrado e reconstrua a esperança. (P/AViS/Primavera/1983).

“A Graça do Altíssimo vai-se concretizando ao passo que os excluídos vão se tornando objetos de mudança social, buscando a igualdade, a liberdade e a fraternidade entre todos, não importando seu gênero, nacionalidade, credo religioso ou condição social.” (P/AViS-Primavera/2.008).

A Graça não atinge apenas o homem. A graça destina-se a todo tipo de vida existente no universo, desde o “micro” até ao “macro”, todos somos objetos do “Plano Salvífico” de Deus. O homem, apesar de sua fragilidade, é o instrumento para estender essa graça por todo o universo, a ele está destinado o domínio de todas as coisas, enquanto Cristo não voltar.

“A natureza faz parte do staff de Deus. Deus é amor e misericórdia, por isso ele sempre nos perdoa, porém a natureza cobra sem pena sempre que é agredida pelo homem.” (P/AViS-Primavera/2008).

“Só a Ecologia Humana, baseada em princípios espirituais, pode restabelecer a harmonia entre o homem e a terra ao estabelecer em primeiro lugar a harmonia entre o homem e o Céu, entre o homem e o homem e do homem para consigo mesmo, e deste modo transformar a atitude ambiciosa e ávida do homem para com a natureza que é a causa das grandes tragédias que a humanidade vem sofrendo. O homem é o veículo da graça para a natureza; através da sua participação ativa no mundo espiritual, ele traz luz para o mundo e para a natureza. O homem é a boca através da qual a natureza respira e vive. O homem vê na natureza o que ele mesmo é - e assim penetra no significado interior dela - desde que seja capaz de buscar nas profundezas interiores de seu próprio ser. É a capacidade de perceber a transparência metafísica dos fenômenos. Os homens que vivem na superfície de seu ser, só podem estudar a natureza como algo que tem que ser manipulado e dominado.” (P/AViS-Primavera/2009).

“Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.” (Carl Jung). (P/AViS- 04/05/2010).

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