terça-feira, 15 de setembro de 2009

05- Que Deus está morto?

Na verdade temos criado e matado muitos deuses nestes milhares de anos que vivemos neste planeta. A análise da tese nietzscheana é bastante complexa. Tendo em vista os nossos objetivos nesta série de considerações, não vai contribuir muito este aprofundamento. Contudo devemos entender que o deus morto de Nietzsche é uma realidade que merece atenção. Na sua obra “Assim Falou Zaratustra” ele revela toda a angústia de um homem ou da humanidade sem Deus. Nesta sociedade sem as restrições de um deus para ditar as normas do bem viver, poderia surgir o “Supra Homem”. No entanto isto não acontece, pois quando o homem sobe à montanha (símbolo da evolução mental), a sua carência de um deus faz com que ele venha a adorar um burro.

Mesmo sem uma análise detalhada vamos passar uma vista rápida nesta caminhada do homem imaginada por Nietzsche.

Para alguns autores a frase: “Deus está morto” tem sido sempre mal interpretada. Como poderia Deus, aquele que não tem princípio, isto é não nasceu, vir a morrer? Seria mais coerente afirmar que Deus não existe. Assim teríamos uma nova linha de discussão que nos levaria por outros rumos bem diferentes do que se pretende com esta reflexão.

Apesar do clamor de Nietzsche de que: “Deus está morto! Deus permanece morto!”, não há como entender que Deus morreu. Uma alusão a Jesus Cristo ou a sua morte na cruz, com certeza estaria fora do contexto, pois parece que na realidade ele não tinha nada contra Jesus. Ele e seus contemporâneos tinham muita resistência ao que diziam e viviam em nome de Jesus. A sociedade de seu tempo vivia numa efervescência filosófica e teológica que na realidade tem ainda repercutido até os nossos dias. Quando duas nações ou dois grupos usam o nome de Jesus ou mesmo de Deus para lhes garantir supremacia sobre o outro, então deparamos com uma deformação da Divindade, e o Deus ou o Jesus invocados não são verdadeiros. São deuses criados por homens para atender a angústia e a sua própria fragilidade. Isto nos reporta aos tempos míticos e nos faz lembrar dos deuses do Olimpo. Estes deuses sim nasciam nas mentes dos homens e podiam ser derrotados e até destruídos.

Em “Assim Falou Zaratustra” podemos encontrar ou entender o momento positivo da filosofia de Nietzsche, denominado por alguns autores como “filosofia do meio-dia”. A obra está dividida em quatro livros.

No primeiro livro Zaratustra anuncia a morte de Deus. Com a morte de Deus os homens se vêem livres dos dogmas e temores dos castigos eternos. Agora o homem é o dono do seu destino, cabe a ele através da ética e do desenvolvimento científico criar o “supra-homem”. Com isso ele sob a montanha e as verdades são reveladas, alcança um alto grau de aperfeiçoamento e fixa a doutrina excelente.

No segundo livro o homem desce a montanha porque a sua doutrina está sendo corrompida. Volta a buscar o entendimento primário da sua origem e buscar o sentido do amor que se perdeu ao passo que o conhecimento aumentou e suas emoções se corromperam desaparecendo a fé, a esperança e a caridade. Com isto perdeu-se o sentido da solidariedade. É hora de retornar às origens e entender valores perdidos como os do sofrimento, da alegria, da doação sem nenhuma recompensa. O supra-homem ataca os sacerdotes como envenenadores da vida os governadores como repressores, querem combater a ordem existente e impor o niilismo na esperança de destruir o existente, criar o vazio para impor uma nova ordem.

Estas ideias vão reforçar os movimentos revolucionários e o surgimento das ideologias que levarão a disputa entre o socialismo e o capitalismo, assuntos que veremos mais tarde.

No terceiro livro ele passa a tratar da doutrina do eterno retorno de todas as coisas. O tempo nessa concepção é um anel perfeito, isto é sem início e nem fim, é uma estrada que só pode ser conhecida no portal do instante. Deste portal segue uma estrada infinita para trás e para frente, sendo o instante o ponto onde as duas estradas se encontram. Assim todas as coisas já aconteceram e irão acontecer novamente numa repetição infinita. Este eterno retorno é o mais pesado dos pesos. E Zaratustra é, antes de tudo, “o mestre do eterno retorno”. Esta doutrina deverá conduzir à humanidade a forma mais extremada possível do niilismo, em busca da anarquia, ou seja, a sociedade dos anjos.

No quarto livro os homens superiores voltam à montanha em busca de Zaratustra. Todos os que perderam o sentido da vida voltaram à montanha a procura de um novo sentido, a grande esperança. Zaratustra os encontro e lhes oferece abrigo em sua caverna, junto a seus animais, a serpente e a águia que representam o conhecimento e o orgulho respectivamente. Os homens superiores não estão preparados para a nova ordem que buscam e se sentem tentados a buscar o que adorar em lugar do Deus Morto. Passam a adorar o jumento como encarnação da doutrina de Zaratustra. Conclui, reconhecendo que apesar de tantos esforços, indo e vindo através da Lei do Eterno Retorno, os homens superiores estão longe de serem aqueles almejados por Zaratustra.

Muito se tem falado sobre o pensamento de Nietzsche, mas a Morte de Deus, segundo a filosofia Nietzscheana pode nos levar a pensar sobre o absurdo da negação das conquistas feitas pelo homem através dos mais variados sistemas, incluindo a sua fé em um Criador. É evidente que precisamos periodicamente rever nossos valores e princípios, mas nunca abandonar valores que foram conquistados através de muito sacrifício, reflexões e trabalhos. Negar que o homem tem caminhado positivamente é falta de censo e nos leva sempre a retrocessos que nos obrigam a reiniciar.

O Supra-homem de Nietzsche depois de tantas conquistas volta aos tempos míticos, adorando um burro, mostrando assim que ele retornaria a origem de tudo, isto é ao
Adão para repetir todo o processo até o novo nascimento de Jesus Cristo. Mostra ainda que o homem por mais que se desenvolva precisa cultuar.

Isto nos coloca diante de duas questões que estaremos tratando nos próximos textos:
Primeiro – Quem é o Homem? Segundo – Quem é Deus?
Até lá!!! (P/AViS-15/09/2009).

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