segunda-feira, 28 de setembro de 2009

07- Quem é Deus?

Encerramos o texto anterior afirmando que: “o homem, como ser pensante, tem na sua natureza a convicção sensata de que a existência da criação exige a existência de um criador.”

É uma questão epistemológica bastante complexa, pois a existência exige um princípio, ou seja, algo para existir dentro dos limites de nossa compreensão tem que ter um princípio determinado. O que não tem princípio não tem como existir. A Bíblia dos Cristãos e dos Judeus não se preocupou em explicar a origem de Deus. Ela diz que no princípio o homem conheceu a Deus, perdendo depois o contacto com Ele. Ao perder a comunicação com Deus, os homens do passado inventaram então deuses para atenderem uma necessidade intrínseca de suas vidas. Como ser pensante e pela inteligência prática o homem verificou e constatou que algumas coisas eram boas e outras eram más. A partir daí surgem principalmente a Zoroastria e o Maniqueísmo com base na existência do bem e do mal. Mais tarde com o fim dos tempos míticos surge a era dos filósofos. Aristóteles ficou famoso pelo seu argumento sobre uma Primeira Causa, que carecia de qualquer explicação quanto ao seu princípio. A partir daí muitas ideias foram surgindo até que chegamos aos tempos dos teólogos e a verdade é que até hoje a existência de Deus continua sendo objeto de fé.

Moisés queria saber o nome de Deus e recebeu uma resposta bastante desconcertante: “Eu sou o que sou”. Como Ele (Deus) não tinha um nome próprio passou a ser conhecido como o Deus Altíssimo, Deus dos Exércitos, o Deus de Abraão, o Deus de Jacó e mais tarde recebeu alguns títulos referentes a sua essência, poder ou ação. Mas estes nomes nunca foram capazes de definir com clareza a natureza de Deus. Ele continua sendo uma questão de Fé.

O evangelista João parece ter tentado ultrapassar esta barreira, dizendo que no princípio era o verbo, isto é uma palavra ou um som que deu origem a todas as coisas.

Anselmo de Canterbury, no século XI A.D., tornou-se famosos pelo seu “argumento ontológico” a favor da existência de Deus, no qual mantinha que se o homem pode acolher o conceito de um Deus perfeito, este ente deve então existir. Se Deus somente se encontrasse no pensamento humano, seria um ser imperfeito e, portanto, poderíamos pensar em algo superior ao próprio Deus. Assim sendo, seria uma contradição dizer que a perfeição não existe; portanto, o ateísmo era para Anselmo contraditório e se refutava a si mesmo. Este é provavelmente um dos argumentos filosóficos mais frágeis a favor de Deus, porém ainda se faz uso dele. Descartes o combinou com o argumento causal e insistiu que Deus deve existir para poder causar a idéia de um Deus perfeito em nossa mente. Para muitos, porém este argumento não convence de todo. São Tomaz de Aquino, no século XII, foi o mais famoso criador de argumentos filosóficos a favor da existência de Deus. Era discípulo de Aristóteles, e sua principal contribuição à teologia católica romana, da qual é agora considerado “doutor máximo”, foi uma mesclagem de filosofia aristotélica com teologia medieval. São Tomaz era algo presunçoso ao querer escrever sobre quase todos os temas conhecidos no seu tempo, porém não se pode deixar de reconhecer o seu valor ao produzir a “Suma Teológica”. Talvez a sua maior fraqueza lógica fosse a de crer que a fé podia realmente ser demonstrada pela razão; esta foi, no entanto, de certo modo, a sua idéia mais importante, já que este conceito é ainda acolhido por muitos teólogos e filósofos.

Antes de darmos continuidade em nossos argumentos vejamos o que alguns dos nossos comentaristas já afirmaram sobre os textos anteriores.

Bruno Henrique de Souza Mangueira – “mas até que ponto a fé pode ser mensurada sobre pressupostos científicos, visto ser a mesma um dom de Deus e não simplesmente a busca ao sobrenatural? Como podemos afirmar nossa fé através de pressupostos científicos?”.

Adir Eleotério de Almeida – “lembrou... Habacuque afirma que o justo viverá da fé.”

Recildo N. Oliveira – “está faltando Bíblia no sentido exato de que o conhecimento da verdade nos liberta dos niilismos, preconceitos e paradigmas...”

Estes comentários são preciosos, valorizam e enriquece o nosso trabalho. O meu muito obrigado aos comentaristas em geral. Com o tempo estaremos aproveitando outros comentários, sempre dentro do assunto do dia.

Pois bem, para o cristão é fácil entender o assunto, uma vez que ele toma a Bíblia como a palavra de Deus e ela é clara ao afirmar que sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus 11.6).

Buscando conhecimentos a respeito de Deus.
Quem não quer conhecer seu pai quando ainda não conhece? Os seres humanos sempre buscaram conhecer o seu verdadeiro criador, muitos falsos profetas e aproveitadores têm tido a oportunidade de enganá-los. Mas existem formas para você avaliar e encontrar o caminho do Conhecimento. Deus está sendo manifestado constantemente através da sua criação e por ações espirituais (João Wesley – Graça preveniente) que nos tocam as emoções e nos permite discernir a sua voz.

Um dos evangelistas faz uma afirmação muito interessante a respeito do verdadeiro Deus, isto é, o Deus que criou todas as coisas e por isso mesmo ama a sua obra, pois Ele vem dando luz a tudo isto que podemos ver e tocar. Ele está fazendo ainda hoje esta obra que no final será a sua honra e alegria, quando até a própria morte será vencida.

Veja o que disse o evangelista João: “No princípio era o verbo, o verbo estava com Deus e o verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens...”

No dia primeiro de janeiro de l960, num momento muito especial fui alcançado pela graça de Deus ao ouvir a afirmação de que: “Deus é Amor”. Esta expressão falou-me profundamente e eu descobri quem era Deus para mim. Durante aquele ano falei muito com Ele e produzi este cântico que tenho guardado comigo e pela primeira vez divulgo fora dos limites da comunidade religiosa. Espero que ele possa te inspirar e despertar no seu coração uma fé transformadora, gerando paz interior e certeza de que o Deus que você está conhecendo é um Deus que age.

A Gênese.

“No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia: havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. E disse Deus: haja luz; e houve luz. (Gn 1.1-3).

Primeiro Cântico.

O universo infinito era escuro e frio, assim como uma noite de inverno. Era a eternidade, uma noite sem princípio onde tudo poderia acontecer. Num tempo que não sabemos como medir um orvalho molhava a noite até que se ouviu o primeiro trovão. Era o poder que do nada se manifestava provocando o primeiro movimento do universo, definindo a primeira lei identificada por Pitágoras: “Tudo que se move produz um som”. Era o verbo e ele detinha em si todo poder, toda a magia necessária para gerar as galáxias, os planetas, os mares e eu também. Eu e você já estávamos lá. Era Deus! Como um engenheiro Ele foi ordenando todas as coisas e a cada palavra sua a vida tomava formas diferentes. Assim estão se formando os planetas, as estrelas e o espaço infinito está sendo decorado pelas mais lindas formas, cores e sons. Ainda hoje podemos ouvir os sons do infinito que já alguns aparelhos feitos por nós podem detectar e nós os denominamos de estática ou outros nomes que a ciência considera mais próprio. As águas correntes ou não, os mares, riachos, rios, lagos e cachoeiras dialogam com os ventos, com o frio, o calor e outros fenômenos que não entendemos e cada um tem o seu som, permitindo que nos seus leitos secretos a vida prolifere em formas variadas, gerando peixes, repteis, bactérias e vermes, cada um dentro da espécie que o autor da vida determina. Os minúsculos insetos nas matas, o desabrochar de uma flor, um cristal que se forma um pensamento novo que chega até nós, todos reproduzem o som do verbo original. Uma fera que urra, uma vaca que geme para parir seu bezerro, um grão que se decompõem para perpetuar a vida, todos levantam suas vozes imitando o primeiro gesto do criador. Uma criança que nasce e cresce e outra que não cresce, outra ainda que concebida e não nasceu, dentro do útero ou fora dele clama pelo amor do seu criador. Uma mãe que chora a perda de um filho, do seu marido ou apenas do seu amor, reproduz a angústia do filho de Deus que clamou em Getsêmane: “Se possível passe de mim este cálice, todavia não seja como eu quero, mas que seja feita a sua vontade”, e o pai gemeu de dor pois amava ao filho, no entanto amava mais ainda a humanidade que Ele criava e que agora precisava ser salva com o sangue do seu próprio filho. As alegrias de Maria, de Isabel, dos Anjos que anunciaram o nascimento de Jesus e dos apóstolos no pentecostes são os sons de júbilo do criador e de todos os seus exércitos de Anjos, Arcanjos e Espíritos que habitam o universo invisível. Estes são os sons, o verbo que está criando dois universos distintos, um visível aos nossos olhos naturais e outro visível apenas pelos olhos espirituais e que um dia se encontraram e revelaram a todos que já nasceram e haverão de nascer a verdade que liberta e torna visível toda a grandeza e toda gloria do Criador.

Segundo Cântico.

Ao contrário do que pensamos, paralelo a este mundo visível, outro mundo que foge dos nossos sentidos também se desenvolve em uma velocidade que não sabemos como medir. Ele não depende do tempo nem do espaço, por isso a nossa mente e tudo o que ela pode imaginar e criar é incapaz de mensurar e determinar-lhes forma, funcionamento ou qualquer tipo de limite, é o mundo espiritual, onde novas formas de vidas se desenvolvem. Nos primórdios, na noite escura, trovões e sons variados revelaram o verbo conforme afirma o evangelista. O verbo concebeu e deu à luz o primeiro pensamento que gerou a vontade. Pensamento e vontade reunidos geraram o conhecimento e o desejo de mais conhecimento. Nele nós; minerais, fogo, ar, água e animais estávamos presentes. Cada um segundo a sua própria natureza que vai se evoluindo buscando novas formas para glorificar e manifestar misteriosamente a essência do seu criador. Sócrates percebeu esta realidade e exclamou: “O conhecimento já existe, só precisamos pari-lo”. No conhecimento estava a tríade, o Pai o Filho e o Espírito que um dia às margens do Jordão se revelou. O Pai clamou do céu: este é o meu filho amado, em quem me comprazo. O filho se apresentou às margens do rio para cumprir a lei e dar início ao seu ministério. O Espírito permitiu que os céus fossem abertos e em forma de pomba desceu sobre Ele ungindo-o para pregar boas novas para a humanidade e dar início a uma nova era, a era da graça que já está chegando em nossos dias. Deus é conhecimento e como um arquiteto está criando um mundo novo a cada dia; Deus é maestro e rege o universo que em melodias insondáveis nos toca e faz com que cada um de nós seja uma alma vivente e depositário de um espírito que Ele mesmo concede para que possamos descobrir sua paternidade. Assim além de conhecimento infinito, arquiteto, maestro e muito mais do que possamos imaginar, Ele é AMOR. Como humanos somos como um grão microscópico da sua criação, mas Ele nos deu a graça de um pouco do seu conhecimento através do pensamento e da vontade o que permite o nosso compartilhar de sua obra nos tornando também criadores à sua imagem e semelhança. Sensíveis à sua vontade podemos nos tornar instrumentos da sua graça. Instrumento de amor capazes de transformar a vida e o mundo e trazer à luz as maravilhas que Ele detém em sua natureza. Isto fez com Descartes bradasse extasiado: “Penso, logo existo”. É assim que chegamos à existência e muitas vidas estão disponíveis para serem conquistadas por nós, pobres e frágeis humanos. Assim Deus não está na matéria, é o conhecimento, o pensamento, a vontade, as idéias e a graça reunidas em todo universo. Ele sabe e conhece tudo, sem nenhum limite de tempo ou espaço. O que será daqui a um bilhão de anos já é do seu conhecimento. Assim como Ele não é matéria, mas Espírito, Ele está constantemente entre e dentro de nós. Ele comanda o mundo espiritual onde milhares e milhares de seres espirituais estão a seu serviço por todo o universo. Dar nomes a este Deus é algo inefável que foge à minha inteligência, mas eu me aventuro em dizer que para mim: DEUS É AMOR.”

(P/AViS-Primavera de 1960). (Este texto faz parte do acervo do Projeto Amor: Cristo, Verdade que Liberta. – sua reprodução está autorizada em obras sem fins comerciais, com a citação do nome do autor).

No próximo texto estaremos tratando de: Ideologias, deuses e Deus.
(P/AViS-29/09/2009). – Até lá.

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