terça-feira, 24 de novembro de 2009

14- O homem foi feito para ser solidário e não um mero competidor.

Introdução

“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mt 6.19-21).

“Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz.” (Hb 13.16).

Um jovem inteligente e habilidoso de minha aldeia arranjou um bom emprego no Kuait, no Oriente Médio. Trabalhou duro e em pouco tempo ganhou muito dinheiro. Ao voltar para a aldeia, montou um banco particular e abriu uma joalheria. Muitas pessoas depositaram seu dinheiro nesse banco e o negócio prosperou. Mas, uma manhã, as pessoas encontraram o banco e a loja fechados por tempo indeterminado. Temendo pelo destino de seus depósitos, elas deram queixa à polícia e finalmente o jovem foi encontrado e preso. Então, revelou-se que ele havia investido todo o dinheiro do banco em negócios duvidosos para obter lucro rápido. Quando estes faliram, ele perdeu tudo. Finalmente, ele foi preso, e todas as suas propriedades, confiscadas. Na leitura bíblica de hoje, Jesus nos diz que não devemos concentrar nossa atenção na riqueza e nos adverte contra atitudes erradas em relação à riqueza e ao uso dela. Quando permitimos que os bens nos controlem, seguimos por uma trilha escorregadia que nos leva à destruição. Mas, se colocarmos nós mesmos e nossas riquezas nas mãos de Deus, estas podem abençoar outras pessoas, e nossa riqueza contribuirá para o bem-estar da comunidade maior. - T. V. John (Kerala, Índia)
(Transcrito do “no Cenáculo”).


Desencanto:

Os encontros e desencontros estão sempre presentes em nossa vida. Eles acontecem no nosso dia-a-dia, casamentos desfeitos, desempregos, mortes, incompreensões e outras surpresas desagradáveis afetam o nosso emocional criando um estado de ansiedade e às vezes até de desespero. Por mais que lutemos, essas cousas estão sempre ao nosso lado, produzindo efeitos negativos que denominaremos de “Nó Existencial”. É um termo bastante pomposo usado por alguns filósofos e terapeutas, mas que descreve bem essa situação. É um “Nó” que precisa ser desatado e às vezes cortado como na parábola do “Nó Górdio”.
Nós mesmos determinamos o nosso “Nó Existencial”. É o nosso emocional dominado pela raiva, a vaidade, a arrogância, o egoísmo, a perda de privilégios e o desconhecimento das leis que regem o universo. Não queremos cultivar a paciência de esperar o tempo certo para os acontecimentos mais importantes da nossa vida. Não sabemos praticar a tolerância para com os nossos amigos e com as nossas próprias fragilidades. Não somos capazes de beber do elixir do perdão ao próximo e muitas vezes nem a nós mesmos, exigindo sempre cada vez mais perfeição dos nossos atos, esquecendo-nos de que somos pó e por isso sujeitos a falhas e erros conscientes e inconscientes.
As emoções fazem parte da nossa natureza e são traduzidas em sentimentos que identificamos em nossa alma e que são importantíssimos para o funcionamento humano normal. Sem amor, empatia ou compaixão, (empatia = em, dentro e páthos, paixão, modo de conhecimento intuitivo de outrem, que repousa na capacidade de colocar-se no lugar do outro) não se poderia criar famílias e nem viver em sociedade.
É muito comum, quando perdemos o poder, negar o nosso apoio ou pelo menos nos afastar do meio para não colaborar com o nosso sucessor. Precisamos aprender com a mestra “Humildade”, a respeitar as novas ideias e participar com a nossa experiência para apoiar e estimular as novas lideranças.
Precisamos tomar cuidado com aquilo que falamos, a palavra é a alavanca com a qual podemos levantar ou derrubar os nossos amigos. Thiago, o escritor bíblico, diz que a palavra é fogo e que a língua é como o leme de um navio que apesar de pequeno tem o poder de determinar-lhe a direção.
“Devemos lembrar que a palavra não dita é nossa escrava, mas quando dita nos faz seu escravo.”
Dizem também que a língua é o chicote do corpo, com ela podemos defender ou acusar nosso próximo.
O “eu” vem sempre em primeiro lugar, não há respeito pela ideia do outro, o “eu” quer ser soberano e dominante, quer ser o dono da verdade. Mas o que é verdade? As verdades podem ser diferentes; nem sempre a minha verdade é a verdade do outro, sem contar ainda que acima da minha verdade e da verdade do outro está a verdade do grupo.
“O conhece-te a ti mesmo” inscrição inserida no pórtico do Templo de Delfos, e que fez mudanças na vida do filósofo Sócrates (469 – 399 a.C) não é aprofundado e às vezes até desconhecido. Queremos mudar os conceitos existentes na Sociedade, queremos mudar o mundo, mas não queremos mudar a nós mesmos.
Não tenham medo de aprender. O conhecimento é leve. É um tesouro que se carrega facilmente
“Ontem é história. Amanhã é mistério e hoje é dádiva. Por isso se chama presente.” (Brian Dyson).
O nosso grupo é o somatório de todos nós, reflete as nossas melhores ou piores intenções. Quando buscamos a “verdade que liberta” fazemos do grupo uma comunidade de apoio, de inspiração e escrevemos uma linda história. É o que devemos buscar, um grupo saudável, um ambiente em que a amizade, a solidariedade e o companheirismo contribuam para que os nossos “ENCANTOS” permaneçam e jamais sejam transformados em “Desencantos”. (P/AViS-Primavera-2003 – Br.Refl. 58).
Ser Solidário


Ser solidário é ser amigo da verdade,
É ter Cristo na alma,
É ter olhos no infinito,
É amar e partilhar,
É nunca falhar.

Ser solidário é ver o outro como irmão,
É ser ponto de salvação,
Sempre estendendo a mão.

Ser solidário é querer ver o outro contente,
E lhe mostrar o caminho,
É lhe tirar os espinhos,
E não deixar tropeçar,
É ajudar a caminhar na estrada do amor,
Na luz do grande libertador.


Ser solidário é ser amigo na dor,
É enxergar todo pranto,
É dar alegria à alma,
É lhe trazer toda calma,
É lhe mostrar a esperança,
É ver o caminho da fonte,
É não dar tranquilizante,
É ser amigo constante,
É dizer: Jesus é o nosso calmante.


(Com autorização do autor - Zé Santana – Brejo Santo – CE – Brasil)


Aprendendo com o Urubu:

Quando criança, morava no campo e gostava de observar a natureza. Desde cedo, minha mãe me incentivou a plantar e colher alimentos e também flores. Eu admirava os pássaros soltos na natureza, cantando pela manhã, fazendo seus ninhos e criando seus filhotes. O meu pai gostava de aprisioná-los em gaiolas o que me aborrecia muito, pois o canto de um pássaro preso é sempre diferente de um pássaro solto. Muitas vezes, soltei os canários do meu pai sem que ele soubesse. O interessante é que um dos meus cinco* filhos também herdou este gosto e por diversas vezes eu repeti este gesto sem que ele soubesse. Mas havia um pássaro que eu nunca conseguia vê-lo de perto, muito menos conseguia ver seus ninhos e nem os seus filhotes. Aquele pássaro era grande, arisco e só aparecia quando algum animal estava morto e entrava em decomposição. Um dia minha mãe me disse que aquele pássaro era o urubu, um pássaro feio e agoureiro.

A partir dali, comecei a observar este pássaro tão mal visto pelas pessoas. Com o tempo, passei a gostar dele e notei que afinal de contas ele não era tão feio assim. Ele era até simpático apesar do péssimo costume de comer carniça, o que dificultava apreciá-lo mais de perto. Certa vez, perguntei para o capataz da fazenda qual a sua opinião sobre o urubu. Então ele me disse que ele prestava um bom serviço, pois ele cuidava do campo
consumindo os animais mortos em decomposição e sinalizando muitas vezes os locais onde estes animais se encontravam. Curioso, fiz-lhe diversas perguntas e ele me deu uma verdadeira aula ensinando-me tudo o que ele sabia deste pássaro. Tratava-se de um pássaro muito importante na preservação da natureza e até ensinava algumas lições muito interessantes. Por exemplo, levantava cedo e já saia para correr os campos à procura de alimento, tinha uma capacidade impressionante de observação. Mesmo voando muito alto, ele localizava os animais mortos entrando em decomposição. Ele era organizado e solidário. O espião, ao descobrir um animal deitado no campo, ia baixando o seu voo lentamente até chegar bem próximo. Pousava em alguma árvore ou então em uma cerca e ficava aguardando para verificar se o animal se movia. Depois de algum tempo, se o animal não se movesse, ele se aproximava e pousava próximo do animal e circulava algumas vezes em torno e finalmente subia sobre o corpo e só então bicava-lhe, de preferência os olhos e se nada acontecia, então ele voava e ia comunicar aos companheiros. Mais tarde, voltava acompanhado do bando para consumir aquele corpo. O mais interessante era o ritual que eles realizavam em torno da carniça. Segundo ele, parecia que só depois do mais velho rasgar o couro (abrir o corpo) do animal é que os outros avançavam para se servir. Era o respeito pelo mais velho. Falou também da lenda do Urubu Rei, que ele nunca havia visto, mais que um amigo seu afirmava que ele existia e que ficava nos lugares mais altos e era protegido pelo bando.

O tempo passou e eu acabei me interessando pelos urubus e aprendi então que existem diversas espécies deles. Aqui em Itajubá, um amigo e companheiro de caserna, Veterinário por profissão forneceu-me algumas informações muito importantes as quais registro à guiza de conhecimento sobre essa espécie.

“ O mais famoso e mais conhecido entre nós é chamado “Urubu-de-cabeça-preta” da ordem “Cathartiformes”. O Urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) é uma ave Cathartiformes da família Cathartidae, pertencente ao grupo dos abutres do Novo Mundo. É uma das espécies do grupo mais frequentemente observada, devido ao fato de realizarem voos planados a grandes alturas, por serem consumidores de carcaças animais e por possuírem atividade durante todo o dia. O urubu-de-cabeça-preta como as outras espécies de urubus, possuem a cabeça depenada, sendo um pouco rugosa. Essa espécie possui uma boa visão e um olfato apurado, mas não tanto como seu parente mais próximo o urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura), que localiza a carcaça três vezes mais rápido que essa espécie. Isto se deve ao fato de que a parte do seu cérebro que se encarrega do instinto olfático é cerca de três vezes maior do que a dos urubus-de-cabeça-preta. Eles fazem seus ninhos em terrenos longe da presença humana, junto do solo e nunca são feitos a mais de 50 cm. Os ovos, de cor cinza ou verde-pálida, são incubados por ambos os genitores durante 32 a 40 dias. Os juvenis eclodem com plumagem branca e são alimentados por regurgitação. Com o passar dos dias, os juvenis ganham uma cor branco-rosada e penas um pouco azuladas. O primeiro voo ocorre por volta das 10 a 11 semanas e com cerca de três meses já têm a plumagem de adulto. O urubu-de-cabeça-preta alimenta-se de carniças e frutas em decomposição como a pupunha. Este modo de alimentação necrófago confere-lhes importância ecológica, pois ajudam a eliminar carcaças do ecossistema”.
A maior lição que eu aprendi com os urubus foi a da “Solidariedade”. Quando o espião descobre e confirma a existência de uma carcaça, ele sai e vai chamar os seus amigos para compartilhar daquele repasto. E eles vão chegando em grande número e há alimento e lugar para todos participarem do banquete.
Eu fico então pensando em como nós, os humanos, agimos. Se descobrimos algo precioso, logo queremos tomar posse, se for de grande valor, vamos providenciar uma proteção para que outros não tirem proveito daquilo. Somos possessivos e egoístas e a pretexto de garantir nossos direitos lançamos mãos de todos recursos. Fincamos a nossa bandeira, determinamos os nossos limites e nos armamos para expulsar qualquer invasor.
Então, aquele pássaro, que a primeira vista nos parecia tão estranho, guiado pelos seus instintos naturais nos dá uma linda lição de solidariedade.
Para mim, ser solidário é se ocupar dos outros e respeitá-los. É também ajudá-los como se eles fossem membros de nossa família. Amá-los e ajudá-los sempre, não só materialmente, mas, às vezes ouvi-lo, abraçá-lo e dizer: pode contar comigo, eu estarei com você sempre que precisar de mim. Ser solidário é, sobretudo, compartilhar com amor e alegria sempre que possível e chorar junto quando a dor chegar. (P/AViS-Primavera de 1969).
* Eram cinco filhos naquele tempo, hoje são sete. O interessante é que nenhum deles desenvolveu o hábito de aprisionar os pássaros.

Conclusão:

A solidariedade deve ser vivenciada, sobretudo, na distribuição dos bens e na justa remuneração do trabalho. Ela se manifesta também pelo esforço a favor de uma busca constante de uma ordem social mais justa, onde os conflitos possam ser mais bem administrados, permitindo soluções que venham atender as necessidades das pessoas, principalmente daqueles que se acham excluídos do uso dos recursos básicos para uma sobrevivência saudável.

A busca de soluções para os problemas sócios econômicos deve ser um esforço constante como uma manifestação natural da solidariedade movida por sentimentos de amor e respeito ao semelhante: solidariedade dos pobres entre si, dos ricos e dos pobres, dos trabalhadores entre si, dos empregadores e dos empregados na empresa, solidariedade entre as nações e entre os povos. A solidariedade internacional é uma exigência de ordem moral. Em parte, é da solidariedade que depende a paz mundial. A nova ordem mundial vem acirrando a competição em todos os sentidos, havendo, portanto, uma carência cada vez maior da prática da solidariedade principalmente entre as grandes potências a fim de facilitar meios para a prosperidade das nações consideradas pobres.

A virtude da solidariedade ultrapassa os bens materiais. Difundindo os bens espirituais da fé, o cristianismo sempre favoreceu o desenvolvimento dos bens temporais, aos quais muitas vezes abriu novos caminhos. Assim foi-se praticando, ao longo dos séculos, o ensinamento de Jesus: "Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas" (Mt 6,33). É bem verdade que a Igreja, como instituição, tem-se preocupado excessivamente em acumular recursos e fazer grandes investimentos em construções de Templos suntuosos em detrimento do atendimento aos carentes.

Há dois mil anos homens e mulheres tem-se devotados a viver e perseverar o sentimento missionário que move a alma dos verdadeiros cristãos este sentimento que tem levado ao heroísmo caritativo dos monges agricultores, sacerdotes operários, dos libertadores de escravos, dos que tratam dos enfermos, dos mensageiros de fé, de civilização, ciência a todas as gerações e a todos os povos, visando criar condições sociais capazes de possibilitar a todos uma vida digna e saudável.

A presença dos que têm fome por falta de pão, no entanto, persevera e parece agravar-se mais ainda com as novas propostas econômicas quase sempre inspiradas no niilismo operante. O drama da fome no mundo convoca cristãos e não cristãos a um compromisso consciente para uma responsabilidade efetiva em relação à família humana, tanto nos comportamentos pessoais como em sua solidariedade como de uma mesma espécie. Aos que se irmanam num sentimento de fé e crença no sagrado apelamos para uma intercessão fervorosa para que o Criador tenha misericórdia desta humanidade, dominada pelo espírito de competição e tão afastada dos sentimentos de fraternidade universal.
(P/AViS-24/11/2009).

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