terça-feira, 1 de dezembro de 2009

15- O lugar do Sagrado na História do Homem. (I/II)

Citação básica:

No texto nº 13, afirmamos:

“Eu sou o meu caminho e a minha verdade.” (P/AViS-11/04/2009- sábado de aleluia.).

“Quando aceitamos Cristo e nos envolvemos com Ele, o Espírito Santo nos transforma a cada dia, e assim nós mesmos, à semelhança do Cristo, nos tornamos o nosso caminho e a nossa verdade.” (P/AViS-Primavera de 1977).

“A Graça do Altíssimo vai-se concretizando ao passo que os excluídos vão se tornando objetos de mudança social, buscando a igualdade, a liberdade e a fraternidade entre todos, não importando sua raça, seu gênero, nacionalidade, credo religioso ou condição social.” (P/AViS-Primavera/2.008).

Introdução:

Estes são caminhos escabrosos, estreitos e cheios de provas que levam o crente até aos pés da cruz, onde lhe será revelado o “Cristo”, cuja face acha-se oculta como na estrada de Emaús, quando os, já discípulos, caminharam com Ele algumas milhas sem o reconhecer. Quando a face do Cristo é revelada, o homem entende a sublimidade da obra do Criador e se torna capaz de ser testemunha e agente de mudanças do mundo.

Ao fazermos estas afirmações esperávamos criar no leitor uma expectativa a respeito da verdadeira imagem de Deus. Na realidade Deus mantém o homem num estado permanente de “suspense” com relação a sua verdadeira imagem. De um modo convencional a imagem nos leva a adoção de um nome e o nome faz ressurgir em nossa mente a imagem do nominado. Moisés ao receber a missão de retirar o povo do Egito, quis saber o nome do Deus que o comissionava. Ao perguntar o seu nome Ele respondeu apenas: “Eu Sou o que Sou”. (Êxodo 3. 14). Você há de convir comigo; uma resposta bastante desconcertante!

O homem tem uma reação diante de Deus, como que diante de uma catástrofe: sem capacidade de previsão e ação, uma liberdade insegura e fracassada, autômato, alienado e dominado por uma curiosidade sem fim que o leva finalmente a um desespero que gera certos estados psiconeuróticos de ansiedade, que reproduz uma sensação de exortações ao temor desse Deus. Os noviços temem os castigos eternos e criam os ades, purgatórios e infernos onde haverão de penar suas falhas e maldades. Nos filósofos, pensadores e até em alguns teólogos menos preparados, impõem-se a figura de um Deus voluntarioso, exigente e rabugento que ameaça a todos com os seus poderes soberanos e majestosos.

Assim o nosso primeiro desafio é analisar as diversas imagens que os homens fazem de Deus, todas de uma forma incompleta e carente de um verdadeiro e profundo conhecimento da “Verdade que Liberta”. Estudam a “Graça” mas apresentam a “Desgraça”, falam do “Amor” mas ameaçam com a “Justiça”, prometem “Boas Novas” mas repetem sempre os mesmos “Chavões” de uma mensagem superada e que nada tem a ver com a realidade presente.

Falando das imagens inacabadas do Criador:

Ao tratar deste assunto devemos estarmos conscientes das questões que envolvem a “Fé”, no entanto este assunto será tratado com bastante profundidade no texto nº 27, quando trataremos da “Teologia da Graça”.

No momento devemos levar em conta apenas que a imagem que temos do Criador está intimamente relacionada ao tipo de “Fé” que cultivamos. Finalmente vejamos alguns retratos que fazem do Criador:

a) Deus é um mistério: Ele mantém o homem num estado de “suspense” com o recurso ao “sagrado da majestade”. O homem tem uma reação com diante de uma surpresa que sempre se renova e novamente surpreende e nunca alcança respostas claras e convincentes. Isto gera um estado de insegurança e ansiedade que determina transtornos que vão desde simples reações mentais, até comportamentos psicossomáticos com resultados funestos. Em uma família, onde o pai não tem uma atitude firme diante dos problemas quotidianos, pode gerar este tipo de visão de um Deus que em última instância é o pai espiritual.

b) Deus é algo abstrato e distante das realidades da vida: é a redução de Deus a uma visão material, limitada, inteligível, em vez de ser um padrão que está muito além e fora do nosso alcance, mas que, ao mesmo tempo é nossa aspiração e convite para irmos mais além em busca da perfeição. É o deus dos filósofos que buscam reduzir o infinito e eliminar a fé (Ex.: Espírito Absoluto: Hegel; Ser: Spinoza; Uno: Plotino; Primeiro Motor: Tomás de Aquino e Aristóteles). Assim Deus é visto como uma categoria filosófica e não está acima e fora de todas elas. Não se leva em conta o “espírito” do sagrado, pois Ele indica apenas presença, atuação, ímpeto, movimento, etc.

c) Deus é o “Soberano”, como o Imperador Romano, com todas as consequências deste triunfalismo e vassalagem. A liturgia se reduz a um protocolo de corte, e na moral prevalece a autoridade da força representada pelas armas que garantem a permanência do supremo no poder. Por isso algumas revoluções querem liquidar com o regime político e com a religião; pois em muitos casos os dois se identificam e se protegem, tudo controlando através de leis motivadas pelo temor da vingança divina ou pela necessidade de manutenção do poder a pretexto da ordem.

d) Deus é jansenista: persegue o homem ou desconfia dele; é uma herança de conflitos infantis (Deus Superego) mal superados ou duma concepção dualista da natureza. Daí o surgimento em nossos dias do “deus de mercado”; aquele que ao receber mais também abençoa mais. É a redução do culto a um comércio para captar a benevolência de Deus ou aplacar sua justiça, pois Ele é caprichoso. Para essas pessoas, Cristo, vodu, umbanda, LSD, orixás, etc., é tudo a mesma coisa.

Estas são algumas imagens que o ser humano faz de Deus. Apesar de considerarmos como imagens inacabadas, devemos admitir como direito e privilégio para nós, seres humanos limitados que somos, ter uma imagem do nosso Criador. Estas imagens possuem aspectos negativos e positivos e é nesta visão que alcançamos a revelação do sagrado. Pecados capitais e virtudes interagem de tal forma que nem sempre são tão claros para a nossa mente, de forma que um pecado pode transformar-se em virtude de conformidade com a situação que vivemos (Ética situacional).

Mas dentro de tudo isto que acabamos de colocar, devemos estarmos conscientes de que a consciência e a ação do sagrado ocorrem de uma forma muito simples. Jesus ensinou que onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome, aí Ele se faz presente. Fazer entender isso é o nosso objetivo neste breve texto. Pois entendemos “Deus”, à medida que vivemos as exigências reveladas por Ele. Também cada pessoa tem uma experiência única e inrepetível no seu relacionamento com Deus. Ele não é determinado por cultura, civilização ou sistemas, nem mesmo os religiosos; Ele transcende qualquer limite que queiramos fazer Dele. (P/AViS-01/12/2009).

Nenhum comentário:

Postar um comentário