terça-feira, 8 de dezembro de 2009

15- O lugar do Sagrado na História do Homem. (II/II)

Citação básica:

No texto nº 13, afirmamos:

“Eu sou o meu caminho e a minha verdade.” (P/AViS-11/04/2009- sábado de aleluia.).

“Quando aceitamos Cristo e nos envolvemos com Ele, o Espírito Santo nos transforma a cada dia, e assim nós mesmos, à semelhança do Cristo, nos tornamos o nosso caminho e a nossa verdade.” (P/AViS-Primavera de 1977).

“A Graça do Altíssimo vai-se concretizando ao passo que os excluídos vão se tornando objetos de mudança social, buscando a igualdade, a liberdade e a fraternidade entre todos, não importando sua raça, seu gênero, nacionalidade, credo religioso ou condição social.” (P/AViS-Primavera/2.008).




Do Conhecimento de Deus:

“Aceitar a existência de um Criador é um ato racional. Aceitar quem é o Criador é um ato de fé.” (Adauto Lourenço – cientista cristão).

A ciência das religiões, como disciplina autônoma, tendo por objeto a análise dos
elementos comuns das diversas religiões a fim de decifrar-lhes as leis de evolução e,
sobretudo, precisar a origem e a forma primeira da religião é uma ciência muito
recente (data do século XIX), e sua fundação quase coincidiu com a da ciência da
linguagem. Max Müller propôs a expressão “ciência das religiões” ou “ciência
comparada das religiões” ao utilizá-la no prefácio do primeiro volume de sua obra
Chips from a German Worshop (Londres, 1867). É certo que o termo fora
empregado esporadicamente antes (em 1852, pelo padre Prosper Leblanc; em 1858
por F. Stie felhagen etc.), mas não no sentido rigoroso que Max Müller lhe deu e que, desde então, passou a ser amplamente adotado.

Mas se a ciência das religiões, como disciplina autônoma, só teve início no século
XIX, o interesse pela história das religiões remonta a um passado muito mais
distante. Podemos localizar sua primeira manifestação na Grécia clássica, sobretudo
a partir do século V a. C.. Esse interesse manifesta-se, por um lado, nas descrições dos cultos estrangeiros e nas comparações com os fatos religiosos nacionais –
intercaladas nos relatos de viagens – e, por outro lado, na crítica filosófica da
religião tradicional. Heródoto (484 - 425 a.C.,) já apresentava descrições
admiravelmente exatas de algumas religiões exóticas e bárbaras (Egito, Pérsia.
Trácia, Cítia etc.), e chegou até mesmo a propor hipóteses acerca de suas origens e
relações com os cultos e as mitologias da Grécia.

Em Atenas, Epicuro (341-270 a. C.) empreendeu uma crítica radical da religião: segundo ele, o “consenso universal” prova que os deuses existem, mas Epicuro considera-os seres superiores e longínquos, sem nenhuma relação com os .homens. Suas teses ganharam popularidade no mundo latino no século I graças, sobretudo, a Lucrécio.

Mas foram os estóicos que, no final do período antigo, exerceram uma influência
profunda, ao elaborarem a exegese alegórica, método que lhes permitiu resgatar e,
ao mesmo tempo, revalorizar a herança mitológica. Segundo os estóicos, os mitos
revelavam visões filosóficas sobre a natureza profunda das coisas, ou encerravam
preceitos morais. Os múltiplos nomes dos deuses designavam uma só divindade, e
todas as religiões exprimiam a mesma verdade fundamental; só variava a terminologia.

O alegorismo estóico permitiu a tradução, numa linguagem universal e facilmente compreensível, de qualquer tradição antiga ou exótica. O método alegórico alcançou sucesso considerável; desde então passou a ser freqüentemente utilizado. Para os apologistas e os heresiarcas cristãos, a questão se colocava num outro plano, pois aos múltiplos deuses do paganismo eles opunham o deus único da religião revelada. Era-lhes necessário, portanto, demonstrar, por um lado, a origem sobrenatural do cristianismo – e, por consequência, sua superioridade – e, por outro lado, tinham de explicar a origem dos deuses pagãos, sobretudo a idolatria do mundo pré-cristão. Também precisavam explicar as semelhanças entre as religiões dos mistérios e o cristianismo.

Este esforço acabou levando o cristianismo a uma série de esquisitices que culminou em um sincretismo religioso, o que provocou reações por parte daqueles que queriam vivenciar a simplicidade evangélica. (Confere texto do autor de 1960 – Esquisitices Religiosas). Este fenômeno vem alcançando grande notoriedade no Brasil, principalmente a partir de 1955 com o início do movimento de renovação promovido pelo “OBPC- O Brasil Para Cristo”, do missionário Manoel de Mello e Silva.

A Revelação Cristã:

No decorrer destes dois mil anos surgiram muitas teologias e muitos doutores tentando fixar uma teologia da revelação de Deus para a Humanidade. Na impossibilidade de estarmos estendendo o nosso trabalho e analisando temas apologéticos dos teólogos e filósofos da era cristã vamos desenvolver apenas uma visão que nos parece bastante interessante e prática para todos os tempos. É o que vamos tomar a liberdade de chamar de: “Teologia do Socorro”. Esta tem sido desde os tempos de Moisés, dos Profetas, dos Apóstolos e nestes dois mil anos de cristianismo, a prática eclesial e que tem passado despercebida pela maioria dos teólogos.

Textos básicos:

“Bem-aventurado tu ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo Senhor. O escudo do teu socorro, e a espada da tua alteza; pelo que os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás sobre as suas alturas.” (Deuteronômio 33.29).

“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia”.
(Salmo 46.1).

“Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço, dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer.” (Atos 26.22).

“Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo.” (Filipenses 1.19).

Estes são apenas alguns textos de épocas bem diferenciadas que mostram que a ideia de Deus como socorro tem permeado a história da revelação. Vamos verificar em algumas breves considerações as conseqüências práticas desta visão de Deus.

Deus é SOCORRO:

a) da insegurança moral. A religião é concebida como um freio e Deus como uma barreira contra a natureza humana. A moral está fora do alcance do homem e ele necessita da graça e do auxílio divino para vivê-la. Assim Deus torna-se um policial ou guarda de trânsito que fixa os limites da prática do bem e do mal. Exige do homem juramentos, promessas e votos, em vez da formação de uma consciência crística e responsável. Ele (o homem) quebra os votos e precisa arrepender-se, o que faz através do ritual cúltico da confissão e pagamento de penitências que podem incluir altas doações para a instituição religiosa. Reforça o pessimismo moral em que o homem aparece visceralmente mau e só artificialmente e temporariamente bom, o que será sempre justificado pela confissão e a penitência que salda a dívida moral.

b) da insegurança intelectual. Depois de uma fase de euforia de liberdade e conquistas científicas a religião achou por bem limitar este desenvolvimento. Isto se deu pelo fato de que muitas afirmações e descobertas científicas ponham em dúvida fatos considerados pela Igreja como fundamentais para a sua afirmação institucional. Dentro desta limitação, o espírito humano volta-se para Deus como se ele fosse um tranqüilizante para aquietar os seus anseios de liberdade e conhecimento. Deus se torna absoluto e através do seu pontífice ele determina os limites do progresso humana, reprimindo aos que insistem em não respeitar os limites impostos. Assim Deus torna-se uma simples resposta intelectual e não existencial-metafísica.


c) da insegurança afetiva. Busca-se Deus para atender o apetite da beleza ou das necessidades de conforto e consolação. É próprio de adolescentes ou de adultos com regressão a esses mecanismos de defesa ou fixados nele desde a adolescência. É próprio também dos novos convertidos que ainda não receberam o preparo necessário a respeito da “Fé Libertadora” e do “Conhecimento da Realidade” que em suma é a essência da “Verdade que Liberta”. “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8.32). De um modo geral muitos líderes religiosos não tem interesse em livrar o novo convertido dessa dependência, pois é exatamente assim que ele se torna submisso e objeto fácil de exploração.

d) da insegurança estrutural. É Deus da ordem estabelecida ou da tradição conservadora. Este homem não alcançou ainda as condições de assumir suas responsabilidades ou não deseja enfrentar os transtornos de uma civilização em constante mudança. As conseqüências de seu ato são sempre determinadas por decisões divinas. Se boas é de Deus, se más é de satanás. Até mesmo nas suas competições, as mais banais ele está sempre recorrendo ao socorro de Deus. Ex.: em uma partida de futebol, os dois lados buscam a ajuda do mesmo Deus. Nas guerras santas, os guerreiros matam em nome de Deus e ambos buscam a ajuda de Deus contra o seu inimigo. Um revolucionário busca a ajuda de Deus para a defesa de seus ideais. Assim Deus se torna o guardião que deve estar a serviço de lados contraditórios, o que por mais incoerente que nos pareça tem acontecido em todos os tempos da história humana. Numa era técnico-científica e alto desenvolvimento intelectual este Deus vai sendo rejeitado por muitos, porém uma massa despreparada pode tornar-se fanática e violenta em nome de Deus, produzindo os mais funestos resultados para a paz e a segurança do mundo. Pois para eles exterminar uma cidade com milhões de habitantes através de uma bomba atômica em nome de Deus, não produz o menor constrangimento. Isto leva a religião à superstição, à magia, fetiches e cultos demoníacos com graves conseqüências para a pessoa e à comunidade local e internacional.

Conclusão:

Vamos concluir este texto conscientes de que estas abordagens deixam muitas questões em suspense. Mas voltaremos a este assunto no texto 17, quando estaremos abordando o tema “Em Defesa da Religião”. Como palavra conclusiva queremos apenas acrescentar que a Igreja vive de esperança, sabendo que ela já possui o “Espírito Santo” e que o “Reino de Deus” já se encontra entre nós, mas tem ainda que lutar na sua peregrinação para possuir completamente o “Espírito” e ser realmente “O Reino”. Mas inspirada na possibilidade sinalizada na “Igreja Apostólica” (Atos 4.32-35) ela prossegue, mesmo reconhecendo muitas vezes como “Igreja Pecadora”, buscando o cumprimento de sua missão qual seja a de ser “Igreja Santificadora”. Está em jogo a liberdade dos homens de aderir conscientemente às obras de Deus, que se traduz na vida plena, participando da ação divina para resgatar o “Éden de Deus”. Está em jogo também o não-paternalismo divino, que aceita o sofrimento e a angústia do homem à medida que a responsabilidade constrói o “Reino de Deus”. O futuro (Escatologia) supõe e exige cristãos maduros, fortes e unidos numa causa comum, apesar da avalanche de forças contrárias. Está também em jogo uma ética solidária e que promove o respeito, a tolerância e até o amor dos cristãos para com aqueles que rejeitam a salvação. Estamos entre a primeira e a segunda vinda de Cristo: na primeira foi Ele quem morreu e ressuscitou, na segunda, nós é que estamos morrendo para ressuscitar todos os dias até a sua volta, quando todo o olho verá e todos os joelhos se dobrarão diante Dele. Amém!... (P/AViS- 08/12/2009).

Nenhum comentário:

Postar um comentário